sábado, 19 de fevereiro de 2011

com-sentido


Pediste-me para confiar.

Tarefa difícil quando, cheios de nós,
sem sentido,
teimamos supor que suportamos por nós,
o que talvez não nos pertença ter por concluído.

Assemelha-se à ilusão de controlar as hipóteses num qualquer jogo de sorte. É tanto o querer que nos chega a parecer real uma realidade que nos ultrapassa.

Começa-se sentido.
Quero dizer, Sem-tido, por nos escapar o ter.
Depois, volta-se ao ponto de encontro onde nos cruzámos da última vez. Aí, tudo ganha de novo, um novo sentido.
O mesmo, a partir do qual se tinha partido,
a partir do qual tudo fazia sentido.
Nunca se chegou a perder,
apenas se preparava para em resiliência voltar, contido.
Quero dizer, com-tido, por passarmos a ter.

Tarefa simples porque, cheios de Ti, agora com sentido.
De mim, apenas o coração dei,
e porque foste Tu a pedir,
a pedir para confiar com ou sem tido,
sorri, confiei.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Poema à mãe

Porque há "mães" que entretanto perdem o rasto do nosso dentro.

"No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...

Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal..."

Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...

Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves."

Eugénio de Andrade

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Nos rumos do homem novo



Esta letra...!

Na vara que se abre em dois caminhos,
Aceitamos proposta de opção,
Sabendo que nunca vamos, sozinhos
Quando é por Cristo, a decisão.

Mochila às costas, com o pão e a palavra,
Levamos tenda prontos para partir.
Guia-nos um fogo, que não se apaga
Que acende no lenço, a cor do servir.


Refrão
Ser Caminheiro
nos rumos do Homem novo
ser construtor,
de um mundo novo
caminhando no amor
ser Homem novo.

Sonhamos cada dia o amanhã,
E que queremos de esperança decidida,
E partilhar na carta de clã.
Nossos rumos, prosseguem aventuras
De encontros do Homem com Deus,
Na história.
A exigir a coragem de rupturas
De que a cruz no mundo, gritar memórias.

Refrão

Nas palavras de montanha, a verdade
A chamar por coerência e compromisso,
O evangelho feito comunidade,
Vivido em atitude de serviço.
De B.P. vem, o apelo a navegar,
Caminhos de triunfo, a felicidade,
Em Jesus Cristo a meta a alcançar,
O Homem novo chamado à eternidade.

Refrão

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Pelos dedos se conta a partilha

Pergunta-se para não se ouvir. Na realidade, ouvidos moucos ao que de facto seria relevante, para nós. Acontece quando nos abordam, sem no fundo, haver real intenção em saber como estamos.
A questão é subtil. Normalmente invertida. Não a métrica. A semântica. Detecta-se, se por exemplo, na frase vier um tal de "então como vão as "coisas"?".

Qual foi a última vez que se perguntou: "como estás? (tu)". Sim, para tal é preciso disponibilidade, é verdade. Talvez seja por isso que é irritante de se fazer, a pergunta. Em resposta pode sempre vir um "não estou muito bem" e ai sentimos a necessidade de cuidar, deixando vir ao de cima a natural propensão à psicologia do senso comum que todos temos.

O que vale é que as "coisas", essas, à partida, estão sempre a correr lindamente.
No decorrer, vai-se perdendo o desejo de fundo e fica apenas a pobre conversa onde só há espaço para contar e não para partilhar. Contar tem apenas um sentido. Partilhar tem dois. Contando fica-se ainda mais vazio. Partilhando somos Um, depois.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Experiência de céu


Aprender a viver numa experiência de céu. Tanto de novidade como de querido e já conhecido por dentro, faz tempo, por tanto se desejar. A realização é veridica! Quando em maturidade, chega-se perto do que de maior há para se ter, em vida. Ter, que no fundo é um tudo de Dar. Por vezes , a possibilidade de nos sentirmos nós mesmos parece-nos vedada. Zona interdita, até ao dia que "do céu" chega a Graça. Um céu que se faz de dentro para fora e de fora para dentro, numa linha tão ténue, que nem se chega a confundir, por ser, em unissono a mesma Vida. Ressuscitado, proporcionas esta nova Vida, que és Tu mesmo, em nós.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Contigo Maria


Espreitar atrás da porta
Descobrir um quarto escuro
Inventar uma nova rota
Deixar o porto seguro

Caminhar por entre as trevas
A sorrir com confiança
Saber que a mão que nos leva
É a luz da nossa esperança

Contigo Maria vamos
É em ti que encontramos
A força para sonhar
Contigo Maria temos
A alegria que revemos
Nos gestos do teu amar

Estar atento que a meu lado
Pode andar alguém sozinho
Correr sempre ao teu encontro
Fazer da vida o caminho

Contemplar-te neste mundo
A sarar todas as feridas
Olhar cada vez mais fundo
Ter nas mãos o dom da vida

Contigo Maria vamos
É em ti que encontramos
A força para sonhar
Contigo Maria temos
A alegria que revemos
Nos gestos do teu amar