domingo, 31 de março de 2013

Tu és a minha Luz

Jesus.
Que de Maria recebeste a maternidade do Pai.

Que renovas em vida todas as coisas. 
Que renovas, que dás vida ao pecado, que dás vida a morte. 
Inunda, com a Tua nítida claridade, 
a minha história de morte, de desamor.

Inside-Te sobre os recantos escuros da minha memória; do meu entendimento;
da minha vontade; do meu ter e ser;

inside-Te neles, com a Luz que vem do Pai, e Te sai dos olhos pelo Espírito Santo.


                                                      Foto: Tiago Godinho

Penetra-me com esse olhar.

Contigo me renovarei totalmente.

Ficarei inteiro no amor, e assim poderei amar-Te sempre. 
No meu pecado, no pecado dos outros, e livre, 
ser espelho Teu para mim, para os outros, para Ti, para o Pai.
Assim, de mim, apenas sairá o reflexo fiel 
da extrema atenção que me tens. 
O Amor.
Não me esqueça eu do Amor, e contigo Jesus, 
o Pai me ressuscitará da cruz.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Partilhar

Partilhar. Partilhar é devolver o tudo que pertence a todos.

domingo, 11 de novembro de 2012

As balas

Pistola. Sim a pistola. Pode ser óptima para resolver problemas. Pode ser que se acerte no alvo à primeira. Mas primeiro é importante dar nome às balas. Sim. Dar nome às balas para saber quais usar em cada momento. Os alvos não são todos iguais. Não nos podemos por isso enganar nas balas. Imagine-se se é preciso uma bala de borracha e no rótulo diz ser uma bala de chumbo…
As balas são o que nos vai dentro. Os sentimentos são balas estupendas.

Dar nome às coisas. Sim. Se  as coisas têm nome é para serem chamadas por ele. O nome ajuda a clarificar. A tirar a dúvida de se estamos presente disto ou daquilo. Sabe-lo, pode mudar muita coisa em nós. Libertamo-nos cada vez que damos nome ao que se passa cá dentro. Não o fazer, é deixar evoluir exponencialmente muitas das moções interiores que nos roubam a paz, o equilíbrio, que nos perseguem e condicionam no dia a dia, ou até aquelas que exacerbam como que de uma lupa se trata-se, as nossas qualidades, parte vital do nosso ego.

Olhando por exemplo para o nosso cérebro, ou até para o nosso coração. Essas pistolas sempre prontas a disparar.
Num dia em que se acordou irritado. Consequência possível: tudo me parece correr mal. Se calhar poderia começar por identificar o porquê de estar irritado.
Ah! Ontem aquela conversa à noite, com tal pessoa, pôs em evidencia um dos meus maiores medos: o de ser desvalorizado pelos outros. Chamo-lhe por isso: medo, insegurança. Senti-me ameaçado. Haveria razões para me sentir ameaçado? Ah! Então eu não estou irritado porque me custou imenso levantar cedo, ou porque tenho imensas responsabilidades para fazer hoje (como pensava) mas sim porque me irrito cada vez que alguém põe em evidencia os meus medos. Ponderar. Ganhar distância critica. Relativizar positivamente. Para poder integrar isso em mim. Assim, liberto, estou mais disponível para fazer o que tenho a fazer. A ver como sai bem. Agora sim. Sei o nome da bala. Posso disparar.

Mas nem só as nossas balas de fragilidade são motivo para nos levarem a um estado de alma, aparentemente sem precedentes. As virtudes também.
Num dia em se que acordou cheio de coragem. Consequência possível: dou passos maiores que a perna, fico frustrado por não ter conseguido. Se calhar poderia começar por identificar o porquê de estar frustrado. Ah! De facto aquele elogio que me fizeram ontem acerca do meu trabalho levou-me a achar que poderia fazer o dobro em qualidade. Encheu-me de coragem. Gostei imenso de o receber. Será que consigo mesmo ou fiquei a achar que conseguia para poder impressionar a pessoa que me fez o elogio? Hum, se calhar é isso. Na verdade o trabalho que fiz foi muito bem feito. E serei até capaz de melhor, mas.. vou talvez dar um passo à medida do que for realmente capaz. A bala da frustração já não faz sentido. Ponderar. Ganhar distância critica. Relativizar positivamente. Para poder integrar isso em mim. Assim, liberto, estou mais disponível para fazer o que tenho a fazer. A ver como sai bem. Agora sim. Sei o nome da bala. Posso disparar.

Ao contrário, tanto num caso como no outro, vejamos o que acontece se eu der nomes errados às balas.
Imagine-se que tanto na primeira situação como na segunda chamo ou deixo que chamem ao meu medo, insegurança, coragem: estupidez. 
Não tardarei a achar que sou estúpido. E tudo se deve à minha estupidez. Não. Dar os nomes certos às balas é importante. Que tiroteio de mal-entendidos pode acontecer se não o fizermos! Rodar o carregador é se quisermos o discernimento. Desfiarmo-nos a ponto de reconhecer a origem profunda do que se passa dentro de nós. Assumir o que se é, para podermos existir. “Não é o que entra pela  ‘boca’  do homem que o torna ‘impuro’; mas o que sai da sua ‘boca’, isso o torna ‘impuro’ ". Mt 15, 11 .Sermos atiradores furtivos de bem-entendidos.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Bicho da seda

Os bichos da seda. Comem folhas de amoreira. Têm pouco tempo de vida enquanto tal. Têm o seu projecto. O seu casulo. O seu percurso próprio de interioridade. Isso é lá com eles. Não precisam de se comparar com os outros moluscos e ainda assim chegam a voar enquanto borboletas. Transfiguram-se. Como é que um bicho da seda se poderia comparar com um caracol? Imagine-se que o bicho da seda tinha inveja do caracol por não ser escolhido enquanto petisco numa qualquer esplanada no verão. Ora, esqueceu-se que o caracol não produz seda e ele sim. Que o bicho da seda, depois de responder positivamente à sua vocação, voa.


Comparar-se com alguém é ser-se injusto consigo mesmo. É não ter respeito por si. Ter o síndrome da comparação é não assumir o que se é. É ter medo do fracasso.  Não assumindo o que se é não se existe. Sobrevive-se. Não se dignifica. Comparar-se com alguém é rejeitar o seu projecto. É não ter coragem de fazer o percurso pelo seu próprio pé. É falta de confiança. De amor próprio. O bichinho da comparação corrói por dentro. Leva à frustração. Porque nos projecta para uma realidade que não é a nossa. Nem pode ser. É uma espécie de inveja. É viver alienado de si. O viver da aparência nasce da comparação. Não se é, mas tenta-se parecer que é, para estar ao nível com aquilo a que se compara.


«A razão mais sublime da dignidade humana consiste na sua vocação à comunhão com Deus. Desde o começo da sua existência, o homem é convidado a dialogar com Deus: pois se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele, e por amor, constantemente conservado: nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e não se entregar ao seu Criador». Vaticano II “Gaudium et Spes”

Outra coisa é a observação. Observar e tirar proveito da vista. Não ficar fechado no nosso casulo por se querer existir. Assim cada um de nós, apesar de todos rastejarmos poderemos voar também. Basta desenvolvermos a nossa missão. Que o ser humano, depois de responder positivamente à sua vocação, voa. Sermos bichos da seda.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Uma oportunidade

Cada dia é uma nova oportunidade para amar. Mais. Melhor. Mas não para amar com um amor qualquer. Porque amar com o nosso amor é pouco. É precário. É pré-histórico. Dá-me ó Pai, o Teu filho Jesus, para que em cada novo dia possa amar, com o Seu amor.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O reino da formiga

Imagine-se uma formiga. As formigas são muito trabalhadoras. Observa-la a construir a sua casa é algo de impressionante. E quando leva consigo o alimento? Pode transportar com cerca de 100 vezes mais do  que o seu peso. Era como se os humanos conseguissem transportar um carro com as suas mãos. 
Estupendo. Imagine-se uma formiga destas. Que tem um potencial imenso. Um força brutal. Uma formiga que teria como anseio ter todas as formigas do mundo a trabalhar para si. Ser dona e detentora de todas as formigas. Sonha um reino só seu. Um reino onde todas as formigas a contemplassem, adorassem, e a coroassem de grandeza. Grandeza que afinal todas as outras formigas também possuem. A formiga não sabia ter este sonho. O de ser a rainha do reino das formigas. Se lhe dissessem ela até ia ficar espantada. Mas no fundo, tudo o que fazia, fazia-o como quem quer ter um reino só seu, maior que todos os reinos. Aliás, ela queria que só houvesse um reino. O dela. E logo ela que nem se conseguia gerar a si própria. É minúscula e quer que haja um só reino que tenha o seu nome. Ainda que se aperceba que não é a responsável pela existência de todas as outras formigas. Queria um reino só seu, apesar de se aperceber que um outro reino do tamanho do infinito, existia, e não era dela. Pobre formiga. 
Reino. Chega a ser patético pensar construir um reino só nosso. Ridículo.  Que dimensão teria? Quantas pessoas eram precisas? Seria um reinozito com as centenas de pessoas que conhecemos? Ou teria  todas as pessoas do mundo? Para quê? Para que é que queríamos um reino destes? Teríamos capacidade para o governar? Temos imenso potencial de facto. Uma força brutal. Mas não. Não podíamos sustentar um único reino, só nosso. E o engraçado é que  “quando não estamos a construir o reino de Deus estamos a construir o nosso reino” (José T. Mendonça). Assim, se tudo o que fazemos, tudo o que pensamos, não tiver em vista a colaboração na construção do reino de Deus, estaremos a construir o nosso reino. Ou o reino de outra pessoa até. Assim como a formiga, que no fundo no fundo sonhava em ter um reino só seu e tudo o que fazia, fazia-o a pensar no seu poder. Pobre formiga.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Hallowen

Tudo começou na Irlanda. Fazer jus ao costume no  All hallow´s day eve (vespera dia de todos os santos). Dia para onde a tradição remetia a que os mortos voltavam, sobe forma de fantasmas, aos seus sítios habituais em vida.  Não é por acaso que a noite do Hallowen é também véspera do dia dos defuntos. A lenda celta foi depois espalhada por emigrantes pelo U.K e pelos os E.U.A onde, espantosamente origina actualmente uma facturação de milhões de dólares por ano. Raios e coriscos. Sustos e medo. O mal espreita.


A abóbora. Reparando no buraco de uma abóbora. Daqueles  que se têm de fazer para nela colocar a luz e ficar uma cara feia. Observando o que se vê. E o que não se vê também. De facto continua a ver-se a abóbora. E a ausência nela também. O buraco é feito de quê? Ora, de nada claro. O buraco é falta de abóbora.  Buraco, cova, orifício, são, se quisermos, alguns dos muitos nomes se podem dar ao vazio. Há ausência de substância.

O mal. O mal é o buraco. E existe? Não. Não existe. A pergunta até está mal feita. Responder-se-ia “sim” se a pergunta fosse: E não existe? Sim. Sim, não existe.
O mal em si não existe. O mal é ausência de existência. De Ser. De Bem. Assim como o desamor é ausência de Amor.  É des-criação. É lacuna.
É por isso que o pecado é des-criação, pois é encravar o que em nós está a ser criado. É por isso que o perdão é re-criação, pois é restituir há falta de amor, o amor que lhe falta para Ser. O perdão é a expiração de Deus.

“«O Mal indica a pessoa de Satanás (opositor) que se opõe a Deus e que é «o sedutor de toda a terra» (Ap 12, 9). A vitória sobre o diabo (Dia-bo-lo =divisor ≠ Sim-bo-lo = unificador) já foi alcançada por Cristo. Mas nós pedimos para que a família humana seja libertada do demónio. (demo = energia, habitualmente associada ao mal, mas não só) Catec. Igreja Católica 597. O tentador. O tentador vive da aparência. Tenta ser aquilo que não é. É por isso o pai da mentira.

Satanás, diabo, demónio, tentador, são pois, se quisermos, alguns dos muitos nomes quese podem dar ao que é responsável do vazio. Há ausência de substância.
Vazio de Bem. De Amor.  Ausência de Ser. Divisão, oposição ao bem, energia negativa associada ao mal. Levam ao mesmo, são um mesmo, que não existe. Por terem uma lacuna no Ser. 
“A nossa (do diabo e do seu sobrinho) causa, nunca está tanto em perigo como quando um humano, já sem o desejo, mas ainda com a intenção de cumprir a vontade do nosso Inimigo (Deus), olha em volta para um Universo de onde parece ter desaparecido qualquer vestígio Seu (Deus), e pergunta porque foi abandonado, e mesmo assim obedece.”(Vorazmente teu, p. 45)

O mal não é por isso criado, pelo Criador. O Criador cria o que existe. Não consegue criar o que não existe. “Cria liberdades. Capazes de se criarem a si mesmas” (Varillon). Porque Ele É, simplesmente. A abóbora é o Bem. É o Amor. Não existe não-abóbora. Existe sim ausência  de abóbora. Para voltar a ser abóbora precisa-se adicionar, mais abóbora. Aí o mal “passa” a Bem. É por isso preciso o criador todo poderoso. Que é Deus. Para re-criar como a substância do amor onde falta amor. É o perdão. A maior das graças. A graça por excelência.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

As melgas

A verdade é quase como as melgas. Porque será que a verdade nos incomoda? Porque nos provoca. Porque nos faz antever um desinstalar.  Porque produzirá em nós algo que não é nosso. Que não nos convém. Porque nos desafia. É irrequieta. Porque nos aponta sempre para a maturidade. Porque só descansa quando for plena. Quando for tudo em todos. Quando repousar sobre nós. Quando for tudo em nós, somos a paz em pessoa. Mete-se connosco. A verdade é um grande desafio. O Senhor é a verdade.

E quando as melgas vêm de noite? Pusemos o repelente mas elas aí estão em todo o seu esplendor. Tentamos dormir e ela zumbe-nos aos ouvidos. Ou a matamos ou abrimos a janela para que ela voe. Correndo o risco de aí entrarem mais melgas. Assim é na noite da vida. A verdade ronda-nos, desperta-nos do sono. Tem um barulho irritante.  Vai-nos fazer levantar e acender a luz. Sim. A luz. A luz é necessária para descobrir a verdade. Quem tem sede de verdade bem se pode preparar para ser nómada. E de certa forma tornámo-nos muito sedentários. Habituámo-nos demasiado às coisas. Às vezes, até às melgas. Não damos a oportunidade ao nosso coração de se espantar. Como diz o papa Bento XVI “ninguém possui a verdade. A verdade é que nos possui.” Quase apetece dizer: ninguém pica as melgas. As melgas é que nos picam. A verdade, essa melga.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O espelho



“Espelho meu, espelho meu: há alguém mais belo do que eu?”
Demoramo-nos demasiado ao espelho. Penteamo-nos, fazemos a barba, pintamo-nos. A origem do desamor deve-se ao espelho. Ou melhor, no que nele queremos ver reflectido. Tudo por causa da invenção do espelho. O espelho foi inventado pelo Diabo, por Lúcifer, por Satanás, por Narciso. O mesmo é dizer que foi inventado pela divisão, pelo que é rebelde, pelo que é a oposição ao amor, pelo egoísmo. O espelho é constantemente mal usado. Só nos queremos ver a nós nesse espelho.  Nem falo do que é de vidro. Mas de tudo o que reflecte. A existência de um espelho é a oportunidade de um retorno de nós mesmos. Retorno sobre nós mesmos é o desamor. É a contemplação, o endeusamento de nós próprios. É fitarmo-nos ao espelho em tudo o que fazemos. É esperar vermo-nos de novo em tudo o que pensamos e geramos.

O Amor é a ausência de espelho. É a ausência de retorno sobre si mesmo. O desamor é o egoísmo do espelho. O egoísmo só admite um movimento, de fora para dentro, de lá para cá. Só dá na medida em que souber que terá um retorno, no mínimo semelhante. É por isso que o amor é desinteressado. Desinteressado positivamente em si. Porque só está interessado no outro. Na verdade, só há amor próprio quando se é capaz de amar um outro que não eu. 



 
“Espelho meu, espelho meu: haverá alguém mais bonito do que tu?”
Deus não se demora ao espelho. Não o tem. Partiu-o. Nunca o utilizou nem nunca o utilizará. Não se penteia, não faz a barba, não se pinta. Não se contempla a si mesmo. O que tem graça, pois o reflexo do Pai, é Ele próprio, mas que é outro, Jesus. E vice-versa. O pai reflecte o filho. O filho reflecte o Pai.  São o mesmo, e são reflexos de um outro. Vivem um para o outro e não chegam a olhar sobre si. Estão longe de si próprios. Muito longe. É por isso curioso ler “quem Me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9). Jesus não diz: Quem Me vê, vê Jesus. O mesmo diria o Pai: Quem Me vê, vê o Filho.

O espelho não serve para o  amor. Não tem função. Ainda que haja reflexo. Que exercício desafiante este de nos olharmos ao espelho e só conseguirmos ver outro que não nós. Ainda que não pareça à primeira vista, em nós, a pura felicidade, a felicidade eterna, acontece  quando ao espelho vemos um outro, quando há ausência de retorno sobre nós mesmos.

terça-feira, 23 de outubro de 2012