quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Partilhar

Partilhar. Partilhar é devolver o tudo que pertence a todos.

domingo, 11 de novembro de 2012

As balas

Pistola. Sim a pistola. Pode ser óptima para resolver problemas. Pode ser que se acerte no alvo à primeira. Mas primeiro é importante dar nome às balas. Sim. Dar nome às balas para saber quais usar em cada momento. Os alvos não são todos iguais. Não nos podemos por isso enganar nas balas. Imagine-se se é preciso uma bala de borracha e no rótulo diz ser uma bala de chumbo…
As balas são o que nos vai dentro. Os sentimentos são balas estupendas.

Dar nome às coisas. Sim. Se  as coisas têm nome é para serem chamadas por ele. O nome ajuda a clarificar. A tirar a dúvida de se estamos presente disto ou daquilo. Sabe-lo, pode mudar muita coisa em nós. Libertamo-nos cada vez que damos nome ao que se passa cá dentro. Não o fazer, é deixar evoluir exponencialmente muitas das moções interiores que nos roubam a paz, o equilíbrio, que nos perseguem e condicionam no dia a dia, ou até aquelas que exacerbam como que de uma lupa se trata-se, as nossas qualidades, parte vital do nosso ego.

Olhando por exemplo para o nosso cérebro, ou até para o nosso coração. Essas pistolas sempre prontas a disparar.
Num dia em que se acordou irritado. Consequência possível: tudo me parece correr mal. Se calhar poderia começar por identificar o porquê de estar irritado.
Ah! Ontem aquela conversa à noite, com tal pessoa, pôs em evidencia um dos meus maiores medos: o de ser desvalorizado pelos outros. Chamo-lhe por isso: medo, insegurança. Senti-me ameaçado. Haveria razões para me sentir ameaçado? Ah! Então eu não estou irritado porque me custou imenso levantar cedo, ou porque tenho imensas responsabilidades para fazer hoje (como pensava) mas sim porque me irrito cada vez que alguém põe em evidencia os meus medos. Ponderar. Ganhar distância critica. Relativizar positivamente. Para poder integrar isso em mim. Assim, liberto, estou mais disponível para fazer o que tenho a fazer. A ver como sai bem. Agora sim. Sei o nome da bala. Posso disparar.

Mas nem só as nossas balas de fragilidade são motivo para nos levarem a um estado de alma, aparentemente sem precedentes. As virtudes também.
Num dia em se que acordou cheio de coragem. Consequência possível: dou passos maiores que a perna, fico frustrado por não ter conseguido. Se calhar poderia começar por identificar o porquê de estar frustrado. Ah! De facto aquele elogio que me fizeram ontem acerca do meu trabalho levou-me a achar que poderia fazer o dobro em qualidade. Encheu-me de coragem. Gostei imenso de o receber. Será que consigo mesmo ou fiquei a achar que conseguia para poder impressionar a pessoa que me fez o elogio? Hum, se calhar é isso. Na verdade o trabalho que fiz foi muito bem feito. E serei até capaz de melhor, mas.. vou talvez dar um passo à medida do que for realmente capaz. A bala da frustração já não faz sentido. Ponderar. Ganhar distância critica. Relativizar positivamente. Para poder integrar isso em mim. Assim, liberto, estou mais disponível para fazer o que tenho a fazer. A ver como sai bem. Agora sim. Sei o nome da bala. Posso disparar.

Ao contrário, tanto num caso como no outro, vejamos o que acontece se eu der nomes errados às balas.
Imagine-se que tanto na primeira situação como na segunda chamo ou deixo que chamem ao meu medo, insegurança, coragem: estupidez. 
Não tardarei a achar que sou estúpido. E tudo se deve à minha estupidez. Não. Dar os nomes certos às balas é importante. Que tiroteio de mal-entendidos pode acontecer se não o fizermos! Rodar o carregador é se quisermos o discernimento. Desfiarmo-nos a ponto de reconhecer a origem profunda do que se passa dentro de nós. Assumir o que se é, para podermos existir. “Não é o que entra pela  ‘boca’  do homem que o torna ‘impuro’; mas o que sai da sua ‘boca’, isso o torna ‘impuro’ ". Mt 15, 11 .Sermos atiradores furtivos de bem-entendidos.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Bicho da seda

Os bichos da seda. Comem folhas de amoreira. Têm pouco tempo de vida enquanto tal. Têm o seu projecto. O seu casulo. O seu percurso próprio de interioridade. Isso é lá com eles. Não precisam de se comparar com os outros moluscos e ainda assim chegam a voar enquanto borboletas. Transfiguram-se. Como é que um bicho da seda se poderia comparar com um caracol? Imagine-se que o bicho da seda tinha inveja do caracol por não ser escolhido enquanto petisco numa qualquer esplanada no verão. Ora, esqueceu-se que o caracol não produz seda e ele sim. Que o bicho da seda, depois de responder positivamente à sua vocação, voa.


Comparar-se com alguém é ser-se injusto consigo mesmo. É não ter respeito por si. Ter o síndrome da comparação é não assumir o que se é. É ter medo do fracasso.  Não assumindo o que se é não se existe. Sobrevive-se. Não se dignifica. Comparar-se com alguém é rejeitar o seu projecto. É não ter coragem de fazer o percurso pelo seu próprio pé. É falta de confiança. De amor próprio. O bichinho da comparação corrói por dentro. Leva à frustração. Porque nos projecta para uma realidade que não é a nossa. Nem pode ser. É uma espécie de inveja. É viver alienado de si. O viver da aparência nasce da comparação. Não se é, mas tenta-se parecer que é, para estar ao nível com aquilo a que se compara.


«A razão mais sublime da dignidade humana consiste na sua vocação à comunhão com Deus. Desde o começo da sua existência, o homem é convidado a dialogar com Deus: pois se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele, e por amor, constantemente conservado: nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e não se entregar ao seu Criador». Vaticano II “Gaudium et Spes”

Outra coisa é a observação. Observar e tirar proveito da vista. Não ficar fechado no nosso casulo por se querer existir. Assim cada um de nós, apesar de todos rastejarmos poderemos voar também. Basta desenvolvermos a nossa missão. Que o ser humano, depois de responder positivamente à sua vocação, voa. Sermos bichos da seda.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Uma oportunidade

Cada dia é uma nova oportunidade para amar. Mais. Melhor. Mas não para amar com um amor qualquer. Porque amar com o nosso amor é pouco. É precário. É pré-histórico. Dá-me ó Pai, o Teu filho Jesus, para que em cada novo dia possa amar, com o Seu amor.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O reino da formiga

Imagine-se uma formiga. As formigas são muito trabalhadoras. Observa-la a construir a sua casa é algo de impressionante. E quando leva consigo o alimento? Pode transportar com cerca de 100 vezes mais do  que o seu peso. Era como se os humanos conseguissem transportar um carro com as suas mãos. 
Estupendo. Imagine-se uma formiga destas. Que tem um potencial imenso. Um força brutal. Uma formiga que teria como anseio ter todas as formigas do mundo a trabalhar para si. Ser dona e detentora de todas as formigas. Sonha um reino só seu. Um reino onde todas as formigas a contemplassem, adorassem, e a coroassem de grandeza. Grandeza que afinal todas as outras formigas também possuem. A formiga não sabia ter este sonho. O de ser a rainha do reino das formigas. Se lhe dissessem ela até ia ficar espantada. Mas no fundo, tudo o que fazia, fazia-o como quem quer ter um reino só seu, maior que todos os reinos. Aliás, ela queria que só houvesse um reino. O dela. E logo ela que nem se conseguia gerar a si própria. É minúscula e quer que haja um só reino que tenha o seu nome. Ainda que se aperceba que não é a responsável pela existência de todas as outras formigas. Queria um reino só seu, apesar de se aperceber que um outro reino do tamanho do infinito, existia, e não era dela. Pobre formiga. 
Reino. Chega a ser patético pensar construir um reino só nosso. Ridículo.  Que dimensão teria? Quantas pessoas eram precisas? Seria um reinozito com as centenas de pessoas que conhecemos? Ou teria  todas as pessoas do mundo? Para quê? Para que é que queríamos um reino destes? Teríamos capacidade para o governar? Temos imenso potencial de facto. Uma força brutal. Mas não. Não podíamos sustentar um único reino, só nosso. E o engraçado é que  “quando não estamos a construir o reino de Deus estamos a construir o nosso reino” (José T. Mendonça). Assim, se tudo o que fazemos, tudo o que pensamos, não tiver em vista a colaboração na construção do reino de Deus, estaremos a construir o nosso reino. Ou o reino de outra pessoa até. Assim como a formiga, que no fundo no fundo sonhava em ter um reino só seu e tudo o que fazia, fazia-o a pensar no seu poder. Pobre formiga.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Hallowen

Tudo começou na Irlanda. Fazer jus ao costume no  All hallow´s day eve (vespera dia de todos os santos). Dia para onde a tradição remetia a que os mortos voltavam, sobe forma de fantasmas, aos seus sítios habituais em vida.  Não é por acaso que a noite do Hallowen é também véspera do dia dos defuntos. A lenda celta foi depois espalhada por emigrantes pelo U.K e pelos os E.U.A onde, espantosamente origina actualmente uma facturação de milhões de dólares por ano. Raios e coriscos. Sustos e medo. O mal espreita.


A abóbora. Reparando no buraco de uma abóbora. Daqueles  que se têm de fazer para nela colocar a luz e ficar uma cara feia. Observando o que se vê. E o que não se vê também. De facto continua a ver-se a abóbora. E a ausência nela também. O buraco é feito de quê? Ora, de nada claro. O buraco é falta de abóbora.  Buraco, cova, orifício, são, se quisermos, alguns dos muitos nomes se podem dar ao vazio. Há ausência de substância.

O mal. O mal é o buraco. E existe? Não. Não existe. A pergunta até está mal feita. Responder-se-ia “sim” se a pergunta fosse: E não existe? Sim. Sim, não existe.
O mal em si não existe. O mal é ausência de existência. De Ser. De Bem. Assim como o desamor é ausência de Amor.  É des-criação. É lacuna.
É por isso que o pecado é des-criação, pois é encravar o que em nós está a ser criado. É por isso que o perdão é re-criação, pois é restituir há falta de amor, o amor que lhe falta para Ser. O perdão é a expiração de Deus.

“«O Mal indica a pessoa de Satanás (opositor) que se opõe a Deus e que é «o sedutor de toda a terra» (Ap 12, 9). A vitória sobre o diabo (Dia-bo-lo =divisor ≠ Sim-bo-lo = unificador) já foi alcançada por Cristo. Mas nós pedimos para que a família humana seja libertada do demónio. (demo = energia, habitualmente associada ao mal, mas não só) Catec. Igreja Católica 597. O tentador. O tentador vive da aparência. Tenta ser aquilo que não é. É por isso o pai da mentira.

Satanás, diabo, demónio, tentador, são pois, se quisermos, alguns dos muitos nomes quese podem dar ao que é responsável do vazio. Há ausência de substância.
Vazio de Bem. De Amor.  Ausência de Ser. Divisão, oposição ao bem, energia negativa associada ao mal. Levam ao mesmo, são um mesmo, que não existe. Por terem uma lacuna no Ser. 
“A nossa (do diabo e do seu sobrinho) causa, nunca está tanto em perigo como quando um humano, já sem o desejo, mas ainda com a intenção de cumprir a vontade do nosso Inimigo (Deus), olha em volta para um Universo de onde parece ter desaparecido qualquer vestígio Seu (Deus), e pergunta porque foi abandonado, e mesmo assim obedece.”(Vorazmente teu, p. 45)

O mal não é por isso criado, pelo Criador. O Criador cria o que existe. Não consegue criar o que não existe. “Cria liberdades. Capazes de se criarem a si mesmas” (Varillon). Porque Ele É, simplesmente. A abóbora é o Bem. É o Amor. Não existe não-abóbora. Existe sim ausência  de abóbora. Para voltar a ser abóbora precisa-se adicionar, mais abóbora. Aí o mal “passa” a Bem. É por isso preciso o criador todo poderoso. Que é Deus. Para re-criar como a substância do amor onde falta amor. É o perdão. A maior das graças. A graça por excelência.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

As melgas

A verdade é quase como as melgas. Porque será que a verdade nos incomoda? Porque nos provoca. Porque nos faz antever um desinstalar.  Porque produzirá em nós algo que não é nosso. Que não nos convém. Porque nos desafia. É irrequieta. Porque nos aponta sempre para a maturidade. Porque só descansa quando for plena. Quando for tudo em todos. Quando repousar sobre nós. Quando for tudo em nós, somos a paz em pessoa. Mete-se connosco. A verdade é um grande desafio. O Senhor é a verdade.

E quando as melgas vêm de noite? Pusemos o repelente mas elas aí estão em todo o seu esplendor. Tentamos dormir e ela zumbe-nos aos ouvidos. Ou a matamos ou abrimos a janela para que ela voe. Correndo o risco de aí entrarem mais melgas. Assim é na noite da vida. A verdade ronda-nos, desperta-nos do sono. Tem um barulho irritante.  Vai-nos fazer levantar e acender a luz. Sim. A luz. A luz é necessária para descobrir a verdade. Quem tem sede de verdade bem se pode preparar para ser nómada. E de certa forma tornámo-nos muito sedentários. Habituámo-nos demasiado às coisas. Às vezes, até às melgas. Não damos a oportunidade ao nosso coração de se espantar. Como diz o papa Bento XVI “ninguém possui a verdade. A verdade é que nos possui.” Quase apetece dizer: ninguém pica as melgas. As melgas é que nos picam. A verdade, essa melga.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O espelho



“Espelho meu, espelho meu: há alguém mais belo do que eu?”
Demoramo-nos demasiado ao espelho. Penteamo-nos, fazemos a barba, pintamo-nos. A origem do desamor deve-se ao espelho. Ou melhor, no que nele queremos ver reflectido. Tudo por causa da invenção do espelho. O espelho foi inventado pelo Diabo, por Lúcifer, por Satanás, por Narciso. O mesmo é dizer que foi inventado pela divisão, pelo que é rebelde, pelo que é a oposição ao amor, pelo egoísmo. O espelho é constantemente mal usado. Só nos queremos ver a nós nesse espelho.  Nem falo do que é de vidro. Mas de tudo o que reflecte. A existência de um espelho é a oportunidade de um retorno de nós mesmos. Retorno sobre nós mesmos é o desamor. É a contemplação, o endeusamento de nós próprios. É fitarmo-nos ao espelho em tudo o que fazemos. É esperar vermo-nos de novo em tudo o que pensamos e geramos.

O Amor é a ausência de espelho. É a ausência de retorno sobre si mesmo. O desamor é o egoísmo do espelho. O egoísmo só admite um movimento, de fora para dentro, de lá para cá. Só dá na medida em que souber que terá um retorno, no mínimo semelhante. É por isso que o amor é desinteressado. Desinteressado positivamente em si. Porque só está interessado no outro. Na verdade, só há amor próprio quando se é capaz de amar um outro que não eu. 



 
“Espelho meu, espelho meu: haverá alguém mais bonito do que tu?”
Deus não se demora ao espelho. Não o tem. Partiu-o. Nunca o utilizou nem nunca o utilizará. Não se penteia, não faz a barba, não se pinta. Não se contempla a si mesmo. O que tem graça, pois o reflexo do Pai, é Ele próprio, mas que é outro, Jesus. E vice-versa. O pai reflecte o filho. O filho reflecte o Pai.  São o mesmo, e são reflexos de um outro. Vivem um para o outro e não chegam a olhar sobre si. Estão longe de si próprios. Muito longe. É por isso curioso ler “quem Me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9). Jesus não diz: Quem Me vê, vê Jesus. O mesmo diria o Pai: Quem Me vê, vê o Filho.

O espelho não serve para o  amor. Não tem função. Ainda que haja reflexo. Que exercício desafiante este de nos olharmos ao espelho e só conseguirmos ver outro que não nós. Ainda que não pareça à primeira vista, em nós, a pura felicidade, a felicidade eterna, acontece  quando ao espelho vemos um outro, quando há ausência de retorno sobre nós mesmos.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Pórtico

Contava-me uma mãe a surpresa que fizera ao filho aquando do seu aniversário. Houve durante algum tempo algumas pistas que foram dadas ao menino, acerca desta surpresa, mas ele nunca chegou perto do que poderia ser. Chegou até a dizer-se que, dadas as dificuldades, este ano não poderia ter uma festa de anos como estava habituado. Em casa com os amigos. Contudo a promessa de que iria ter um presente inesquecível ainda estava de pé. Chegado o dia do aniversário, a mãe acordou o pequeno a meio da noite. “Às três da manhã”, dizia. Acordado de rompante, não percebeu nada do que estava a acontecer. Queria voltar a dormir. Mas quando a mãe disse: a tua surpresa começa agora, a criança arregalou os olhos e deu um salto da cama. “Vamos, levanta-te, temos que ir” disse a mãe com ternura. Foram até ao aeroporto. Tinham um avião para apanhar. Destino: Paris. O rebento só percebeu que um sonho seu estava prestes a concretizar-se quando leu num pórtico: EuroDisney.
Deu pulos de alegria. Era o pórtico da esperança, do sonho, da vida. Estava profundamente agradecido.


A fé é isto. Quanta fé tinha o filho nos seus pais. Quanta confiança. Quando há relação. Quando há amor. Esta história dá que pensar.  No fundo revela-nos como se é no reino dos céus. “Em verdade vos digo que se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” Mt 18, 3. Acordou do seu sono. Acordou para a vida. O amor alterou os seu planos. Afinal de contas não poderia comemorar o seu aniversário como de costume. Era a visão possível da sua felicidade. A terra prometida esperava-o. A melhor está sempre em devir. A voz da sua referencia de amor chamara-o. “Levanta-te!” Sem mais perguntas correspondeu ao apelo. “Seguir-te-ei para onde quer que vás”Lc 9, 57. Confiarmo-nos ao Santo e todo poderoso em Amor, é fazermos a experiência de chegarmos ao pórtico da vida eterna. Participar na vida de Deus. Desde já. A fé leva-nos ao pórtico da esperança, do sonho, da vida. Entremos. Assim como o menino entrou pela mão de sua mãe, pela EuroDisney dentro. Imagina-se só o que aconteceu depois...

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Não

É preciso saber dizer não, por equilíbrio. Não se trata de excluir. Trata-se de incluir pela via do pressuposto de que há algo que precisa ser mais desenvolvido ainda. É por isso uma negação com vista à promoção. Um não também faz crescer. Define prioridades. Esclarece papeis. Quantas vezes um não pode ser um acto de amor. Pode ser espaço que se abre para o crescimento do outro, de nós mesmos. Saber dizer não é ter por sabidas as prioridades.



Pode até porventura ser mais exigente. Revela maturidade quando tem em vista um propósito maior do que à primeira vista é apresentado. Um não pode ser educativo também. Dizer sempre sim, pode ser perigosíssimo. Acolher é assumir o que se recebe. O que é proposto, o que é dado. Pode-se por isso receber e não acolher. Não assumir o que é proposto, o que é dado. Nem sempre o sim é a melhor forma de acolhimento. Dizer não por equilíbrio, é por isso ter como horizonte o bem maior. É uma posição positiva acerca do que é ainda insuficiente. Do que não é ainda prioridade. É uma oportunidade que remete à erudição.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Gratidão



A gratidão é a porta de todas as graças. Podemos entrar pela porta da inteligência, pela porta da coragem, da frustração, do entendimento, por tantas portas podemos entrar.  Mas a gratidão é que é  a porta de todas as graças. Um olhar agradecido é um olhar que devolve à realidade todo o seu esplendor de beleza. A memória é necessária. A ingratidão é o cumulo da falta de memória. O egoísmo é o cumulo do esquecimento. Fazendo memória de tudo quanto nos é concedido é tornar  presente que o essencial é-nos oferecido gratuitamente. A começar pela própria vida. A gratidão purifica-nos o olhar. É, se quisermos, um beijo na esperança.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Paz


Paz. O que nos cansa é a divisão. O que nos descansa é a unidade. É sentirmo-nos amados. É podermos ser o que somos, inteiros, sem máscaras. Quando amados, sentimo-nos unificados por dentro. Podemos ser nós. O caos é o oposto da paz. É por isso que o pecado nos tira a paz. O pecado é falta de amor. O perdão restitui ao pecado essa insuficiência de amor. É por isso que o perdão promove a paz. Aquilo que em nós está por resolver, os assuntos que deixamos pendentes, acabam por não nos deixar em paz. Porquê? Porque neles estamos divididos. Porque neles ainda falta amor. A paz é unidade, a humildade e a justiça. O mesmo é dizer que é a verdade. Só numa dinâmica de paz se é livre. 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

i/maturidade

O Senhor imaniza-nos sempre para a maturidade. E o que nos custa, o que dói, o que porventura nos faz sofrer, o que provavelmente não conseguimos digerir, deve-se à nossa ainda imaturidade. É o grito natal. Sinal de vida, onde curiosamente, quanto mais maduros, mais felizes, mais criadores, mais Humanos, mais Deus, somos. A Verdade não se contradiz. A chave capta-se em Cristo, onde “estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência.” (Cl 2, 3), o principio e o fim da razão. Método humano que nos leva por nós mesmos a atingir um pedaço da Verdade, do que é mistério, do que é do âmbito da fé. Mas eis que a fé é também conhecimento. A fé é o estado esclarecido da razão. Assim, nesta experiência anfíbia entre fé e razão podemos nós encontrar meios para nos divinizarmos. Tornarmo-nos no próprio Deus. Sim. Tornarmo-nos no próprio Deus. Não se trata de sermos Deus, mas de nos tornarmos cada vez mais semelhantes a Ele.


Da passagem do nada à vida, fazemos a nossa primeira experiência de transmaturidade. Daí em diante, toda a vida é processo de maturação. Amadurecer é tornarmo-nos no próprio Deus. Tornarmo-nos no próprio Deus é amarmos cada vez mais como Deus ama. Esta é se quisermos a grande recompensa das bem-aventuranças. “Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5, 12). A grande recompensa prometida a cada hora por Jesus, o Cristo, não é se não amar como Deus ama. Amar como Deus ama é perdoar como Deus perdoa, é gerar vida como Deus gera, é apagar-se para que outro ser possa Ser.
Deixar-se amadurecer é querer existir.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Imagem e Semelhança

Gostaria Senhor de falar da Tua grandeza, de forma simples, sem pertença, sem ferir o que és. Mais fácil seria dizer o que não és. Porque tu não és senão Amor. O mistério maior do tudo que ao mesmo tempo é nada. Amor infinito, que “apenas” cria liberdades. Liberdades capazes de se criarem a si mesmas. A Tua felicidade é não teres espelho, pois não te contemplas a Ti mesmo. Não tens retorno e não o pretendes em nada do que crias, pois a Tua substância é dádiva e não receptividade.

Não obstante, toda a criatura vem de Ti, e se para Ti voltar cumprirá o seu fim, por via da sua liberdade. Deixando-nos envolver no Teu Amor, tornamo-nos no que és. Assim, toda a criatura realiza a plenitude da sua existência na medida em que se divinizar. É um necessário inalcançável. Mas necessário.


E porque é necessário saber o que és? Porque para ser a Tua imagem e semelhança é preciso conhecer-Te. Recolhendo-nos profundamente, descobrimos que no fundo de nós não há um eu mas um tu. Enquanto houver interesse próprio distanciamo-nos daquilo que Tu és. Estamos em comunhão conTigo quando nos esquecemos de nós, do nosso próprio interesse. Aí, o centro está fora de nós. Somos Tua imagem e semelhança. Fazemos a experiência da Tua própria felicidade.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Do Amor à Esperança

Ora, na verdade, há experiências que realizam mais do que outras é certo. Mas, com verdade, pondo os olhos na nossa realidade, podemos abraça-la com amor. Seja como for. Ainda que não seja nada óbvio. E não é nada óbvio! Assim como também não é nada óbvio abraçar uma cruz com amor. Isto dá que pensar! Temos a prova de alguém que sendo como nós, teve a Sua realização plena pregado numa cruz. E foi daí que brotou vida. Dá-se a ressurreição e nasce tão simplesmente a igreja, da qual temos o privilégio de ter chegado até nós… veja-se bem, quanta esperança põe Deus na fragilidade, no que é pobre, no que é precário…




Hoje de manhã vinha a ouvir uma música que dizia: “Vou-te mostrar que as árvores riem pra ti, Vou-te mostrar que as estrelas dão sinais de si, Vou-te mostrar que o sol te aquece e te abraça, E que tudo não passa do saber viver e contemplar”. Acho que é isto a esperança. Por um sorriso na cruz. É o amor que vence a morte e não o contrário. A morte e todas as mortes em nós, do que é tristeza ao que é frustração, do que é tibieza ao que é egoísmo. E a música continuava “olha à Tua volta e pensa em Deus, Aquele que deu tudo e tudo aos seus, Entrega-lhe o teu estar  o teu olhar, E sem o reparares Ele vai-te abraçar, Vai-te ajudar”.. É isto! Tudo não passa do saber viver e contemplar. Se virmos bem à nossa volta há já tanto de premissas do reino pleno de Deus, perto do dia em que Ele será tudo em todos! Hás-de reparar… é daqui nasce a esperança.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Correr bem / Correr mal


Correr bem ou correr mal. O que acontece, é bom ou é mau? Curiosamente, acho que esta adjectivação somos nós que a fazemos. Tudo depende se vai de encontro com a nossa vontade/necessidade ou não. É a bitola que usamos. Todavia, o que para uns é mau, para outros é experiência de edificação, de liberdade, de céu. Ao invés, o que para uns é bom, para outros é uma experiência de desintegração, divisão, de inferno. A questão expõe-se portanto subjectivamente, porque objectivamente nada é bom ou mau. Tudo depende como nos colocamos perante o que acontece.


Deus “não está” nas coisas. Quanto muito está ”por dentro das coisas”. Não faz por isso sentido dizer: “como é que Deus deixou que isto acontecesse?”. Assim estamos a coloca-lO fora do acontecimento e Ele não está fora, não está no acontecimento em si, mas sim por dentro dele. Não é vontade de Deus que aconteça isto ou aquilo, como se de um titeriteiro se tratasse. Não opta entre que hoje chova e amanhã faça sol. Deus intervém, mas não interfere. É um mistério. Mistério, não por ser incompreensível mas por ser de infinito conhecimento não atingível no seu todo por nós. Não se esgota. É uma bela razão para não acreditar, pois desejaríamos muito mais que Deus fosse feito à nossa medida do que termos que ser nós a fazermo-nos à medida d´Ele. Preferíamos quase que vender a nossa liberdade para que Ele tudo fizesse por nós. E faz! Mas faz pelos máximos, e não pelos mínimos.

Por opção, nada pode contra a nossa liberdade. É a expressão máxima do Amor. Se quisermos, podemos negá-lO inclusivamente. E quanto a isto o todo poderoso em Amor, por opção, nada pode fazer. Assim, a vontade de Deus para cada um não está no que lhe acontece ou deixa de acontecer, mas sim no modo como agimos a partir da nossa liberdade. E aí, a vontade de Deus é que sejamos outro Cristo. Sejamos a Sua imagem e semelhança, e isso nos libertará.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Para-bens


O dom da vida. Acho que a vida é isto mesmo, um dom que nos é dado, com o propósito de com ele nos direccionarmos para o Bem. Para-os-bens. Não pelos bens em si mesmos, como se o que é material fosse o fim ultimo da nossa existência. Não nos esgotamos na matéria mas antes nos prolongamos nela e através dela.
A vida. Para-os-bens, de tudo quanto nos relacionamos. Um dom que nos é confiado para dele desfrutarmos e crescermos em dádiva, à imagem e semelhança do próprio Deus que é todo poderoso em Amor. Em dar-se por inteiro. A vida é uma oportunidade. Oport-unidade. Dever-de-unidade. O mesmo é dizer que a vida é para o Bem. Só o Bem nos une de fundo. Só o Bem nos coloca em comunhão. Comum-união. A partir daqui podemos ser verdadeiramente chamados filhos do Altíssimo. A vida é um lugar de beleza. Ressoam as palavras do Papa Bento aquando da sua visita a Portugal: "Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas em lugares de beleza…Vivei a vossa vida com alegria e entusiasmo, certos da Sua presença e da sua amizade gratuita, generosa, fiel até à morte de cruz. Testemunhai a alegria desta sua presença forte e suave a todos, a começar pelos vossos conterrâneos. Dizei-lhes que é belo ser amigo de Jesus e que vale a pena segui-Lo. Com o vosso entusiasmo, mostrai que, entre tantos modos de viver que hoje o mundo parece oferecer-nos – todos aparentemente do mesmo nível –, só seguindo Jesus é que se encontra o verdadeiro sentido da vida e, consequentemente, a alegria verdadeira e duradoura.”

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Filhos do Pai


É-se filho porque se tem um pai. Não há pai sem filho e nem filho sem pai. Imagine-se o filho, que tem o pai por referência. Concordo com o Pe. Alberto Brito (sj) que diz que “o filho não obedece ao “pai”, imita-o”, e ainda que assim seja, acaba sempre por admirá-lo. Depende do pai. É ele que o educa, que o sustenta, que o vê crescer. Ainda que o pai seja mau sabe dar coisas boas ao seu filho, quanto mais o Pai do céu o fará com os seus.


Veja-se a dignidade que se nos é conferida ao podermo-nos chamar de filhos de Deus! Ser filho de Deus é ser filho da eternidade. É ser filho do Amor. É ser filho do infinito ainda que finitos sejamos. Podemos não obedecer sempre à vontade do Pai, mas reconhecemos nela o sentido profundo da nossa vida. Ele é que sabe. Podemos não obedecer sempre à vontade do Pai, mas sabemos que só esta nos faz crescer, amadurecer, em” sabedoria, estatura e em Graça”. É a sabedoria plena, porque é do Alto, porque é a origem da Graça. Ele é o único que É, total e inteiramente.

A Humildade é a Verdade. Nestas somos invadidos pelos dons do Espírito Santo, pelo próprio Deus, que, depois de esvaziados de nós mesmos, entrará por nós dentro e tudo renova. E é o próprio Deus, o próprio Cristo, que nos diz quem somos e nos lança nesta novidade revestida de profundo sentido da nossa existência: “Quando orardes dizei: Pai Nosso, que estás no céu…”. Obedecer ao Pai é imitá-Lo. Por Cristo, Com Cristo, em Cristo. Sermos filhos no Filho, e aí, tudo faz sentido.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Fazer tudo por Amor

Não poucas vezes, quando estamos perante alguém a quem devemos consideração, esforçamo-nos por dar o melhor de nós como que para confirmar o ascendente que tem sobre nós. E se esse alguém for o próprio Deus? Sugiro para esta semana a temática do trabalho (no/para Reino):

“Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração como para o Senhor e não para homens” (Colossenses 3:23 S. Paulo); e ainda “Servos, obedecei a vosso senhor … na sinceridade do vosso coração, como a Cristo, não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo, de coração, a vontade de Deus; servindo de boa vontade, como ao Senhor e não como a homens, certos de que cada um, se fizer alguma coisa boa, receberá isso outra vez do Senhor, quer seja servo, quer livre” (Efésios 6:5-8 S. Paulo).

Assim, tudo o que fazemos, fazemo-lo para o Pai. O Senhor quer-nos Santos onde estamos. Com as condições que temos. Pelas mais diversas razões que nos levaram a chegar onde nos encontramos. Assim, cada conversa, cada cliente, cada fornecedor, cada mail enviado, cada mensagem, cada leitura, cada situação, seja revestida da noção plena que o Senhor deposita em nós a confiança de co-criadores. Acompanhados de todo, pelo Amor que recebemos descido do céu a habitar no meio de nós, Jesus, pelo poder re-criador do Espírito prometido a cada hora, o Espírito Santo. Co-criadores deste mundo, que ainda não está acabado. Assim a nossa profissão seja meio de santificação. Santificarmo-nos para santificar tudo à nossa volta. Fazer tudo por Amor.

Fazei tudo por Amor. – Assim não há coisas pequenas: tudo é grande. – A perseverança nas pequenas coisas, por Amor, é heroísmo (Caminho, n. 813 José Maria Escrivá).

terça-feira, 22 de maio de 2012

Crescer

Quero estar a Teu lado. Quero permanecer em Ti. Custe o que custar. Tenho que permanecer em Ti. Permanecer apaixonado. Por Ti. Aguardar com confiança, a partir do salto da fé. Aguardar a promessa do Teu filho de que permanecendo no Seu amor, darei muito fruto. Esperar que cresça. Ainda que olhássemos a todo o instante para uma árvore não a víamos crescer nem um milímetro. No entanto, ela cresce. Como que em segredo. Mas cresce!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Trabalho

"O Homem nasceu para trabalhar, assim como as aves para voar" (Job) Que desafio este de fazermos a experiência de nos sabermos co-colaboradores na continuação da Criação. Desafio que me parece ser tão minucioso quanto as tarefas profissionais que temos que fazer. Num primeiro momento demonstra-se-me ousada esta visão. Ter presente que ao desenvolvermos as nossas responsabilidades profissionais estamos a transformar o mundo. Estamos a dar-lhe alguma coisa de que necessitava e ainda não tinha. Depois, vem o sentido de missão que a cada um cabe perceber qual é. Aí fazemos o que sempre fizemos com um sentido maior. Com quem trabalhamos, formamos uma comunidade. Heterogenia em si mesma, formamos a igreja dos profissionais. E até mesmo nos trabalhos mais recondidos, aqueles que se fazem nos bastidores, aí olhamos para a nossa Mãe, e aprendemos dela o serviço na simplicidade, mesmo que em segredo, mesmo que não se saiba do processo que levou ao resultado, ainda que por fim o mundo tenha ficado um pouco mais completo, ainda que porventura ninguém tenha dado por isso. É assim o trabalho...

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Na verdade a Fé só faz sentido quando ela é erudita, culta e acompanha em simultâneo o crescimento de todas as outras dimensões da vida. Ao invés, tentar vestir agora o “fato das motivações e razões de Fé” de quando éramos crianças, agora que já não somos crianças, não cola, não cabe, não faz sentido. Pelo que, se interessados pelo “além nós, humanos e toda a criação”, e antes de qualquer teoria religiosa, só num dinamismo de relação onde haja lugar para um Eu e um Tu, é que se fica disponível para crescer no âmbito da experiencia espiritual de Deus.

Após esta premissa, tudo se constrói a pouco e pouco, se em liberdade, sem estar a medo e a preconceito, reconhecendo nem que seja que somos finitos mas que a realidade e a existência não é toda ela finita. É este o salto da Fé. Crer. Que pressupõe assinar um cheque em branco. Confiar. E são tantas as coisas na vida nas quais aplicamos este salto, muitas vezes sem nos darmos conta. Por exemplo, quando comemos uma refeição que alguém de quem gostamos nos preparou, como sabemos que não está envenenada? Nem nos questionamos, pois é intrínseca a confiança. Comemos e pronto. Está nas entrelinhas da relação estabelecida um trato de que cremos que aquela pessoa nos quer Bem.



Curiosamente, conceituarmo-nos ateus “acaba por ser um conceito contraditório porque a negação só existe porque existe também o seu contrário, ou por outras palavras, o não só existe porque também existe o sim.” Por seu turno ser agnóstico é já por si meio caminho para ser crente, o que não deixa de ser curioso pois coloca-o numa dimensão volante, a caminho…do mais, da harmonia plena, no fundo, de Deus, ainda que nem sempre se reconheça que é Ele.

Fé é pois sustento. Que tem conteúdo na crença e que ganha forma nas “razões da Fé” que carecem a todo o momento de renovação. A fé inclui também por isso um processo racional que justifique e faça de palco para o conteúdo espiritual do crer. No fundo tudo é simples. Basta sabermo-nos à partida amados por Deus, revelado por Cristo como sendo uma só coisa. Amor. Deus não pode se não amar. Na aventura desta relação apenas podemos esperar por isso que Deus nos ame. Cabe-nos a nós aprendermos a deixarmo-nos amar e crescer neste feed-back de amor, confiantes que nos eleva às coisas do alto, e faz-nos superar a nós mesmos. E até para isto é preciso Fé.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Portas do céu


Tudo é Reino. Todo o lugar é lugar para aumentar o Reino.
Que seremos nós, se não portas do Reino? Que responsabilidade será a nossa se não a de ser porta do céu? Sê-lo “com Maria, em Cristo, ao Pai.” Com esta dinâmica tudo ganha sentido, tudo é novo porque renovado nesta certeza, na certeza que é por si só a novidade que não caduca, que é um ciclo cheio de virtude. Ser porta do reino é ser mediador ligado do Reino, ao Reino. Ser outro Cristo, porta para o Pai. Ser com Maria, a seta que aponta para o céu.

“O reino de Deus está próximo”. Experimentamo-lo, desde já, ainda que a caminho da eternidade, sempre que esperançados, sempre que alegres, sempre que co-redentores acompanhados por Cristo nesta missão que Ele próprio começou, missão que é só uma, que é d´Ele, que é também nossa. Alegres porque na nossa “pequenez se detiveram Seus olhos”. O Pai faz o apelo, quer “Ser tudo em todos” tal como somos, a partir do que somos.

É bela esta imagem de ser porta do céu. Ainda que frágil, por vezes perra, e tantas vezes opaca, incompleta, carente, mas que vai sendo canal do Pai e para o Pai. Para a felicidade. Para a eternidade. É uma grande responsabilidade, que não deixa de ser acompanhada em graça pelo Espírito Santo, quando invocado, quando solicitado em verdade de coração, “Ele sopra onde quer” e quando quer, diria. Estar por isso atento, reconhecer os sinais da sua presença que sempre nos procura e nos deseja, onde estivermos, fazendo o que tivermos que fazer. Fazer tudo como se todos o fizessem. Experimentar desde já as delicias do céu. Fazer do “ordinário” o “extraordinário”. Fazer da rotina uma rotina de Deus. Aprender a amar. Amar. Ser porta do céu.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Busco-Te

Continuar a buscar-Te! Dá-me Senhor a graça de não me acomodar! De não me sentar a ver a vida passar, mas antes passe a correr atrás dela, com ela, mantendo o desejo profundo de Te encontrar onde quer que estejas. Onde quer que eu seja mais eu conTigo. É bom saber de quem á minha volta continua empenhado na Tua procura. Assim, ganho balanço e procuro-Te também.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Que geste


Se é assim que queres que eu seja feliz, pois assim seja. Se é assim que me queres dar vida em abundância, pois que venha. Encarar o que se vive no presente como a oportunidade propícia que a vida nos oferece para a vivermos a gosto. Ele há fases e fases, é verdade. Há umas que não se percebe muito bem de onde vem o vento. Apenas sabemos que sopra forte e que nos arrebate com violência. Mas também procurar entender e porventura aceitar que este mesmo pneuma nos quer enviar para outro lugar. Ver outras vistas, aportar noutras praias. Como que dores de parto de algo que está para vir à luz. É dar-lhe tempo. Que geste.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sem outras intenções

"Sem outras intenções, sem arrependimento, sem nostalgia, acolhe os acontecimentos, mesmo os mais ínfimos, com infinita surpresa. Vai, caminha, um pé à frente do outro, avança da dúvida em direcção à fé e não te preocupes com as impossibilidades. Acende um fogo, utilizando mesmo os espinhos que te fazem mal"

Irmão Roger

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Elogio ao silêncio


Pedagogo. Engraçado como é explosiva a dupla silêncio e tempo. Dá-nos muito mais respostas que muitas conversas para chegar a um consenso. De uma forma ou de outra os dois elementos, caminhando de mãos dadas, acabam por revelar tanto a nós como aos outros, os elementos chave para a compreensão dos factos. Do que aconteceu, ou até do que está para acontecer. Não é imediato o efeito, mas acaba o silêncio sempre por dar resposta a quem nós queríamos dar uma explicação. A quem gostaríamos de dizer meia dúzia de coisas. A vida encarrega-se ela mesma de revelar tudo aquilo que nós gostávamos de ter dito, tudo aquilo que queríamos que o outro soubesse. Porquê? Porque a vida não é só boas fases. Também é feita de des-sentido que a todos toca de uma forma ou de outra, agora ou depois. Aí compreendemos nós o que nos tinham tentado dizer, compreendemos nós aquilo o que o outro viveu e que tanto nos gostaria de ter revelado. Contudo nem sempre é expressível. Umas vezes porque a linguagem não é ainda capaz de se expressar o suficiente para que se pudesse entender. Nem mesmo até a dor do outro, na qual nos compadecemos mas estamos longe de a entender por dentro. Assim, o silêncio e o tempo encarregam-se eles mesmos de revelar o que aconteceu de uma forma maior e até mais semelhante ao que realmente foi. É como que um ajuste de contas que sem maldade a vida acaba por fazer por si mesma. E ainda bem. Porque de facto o amor regenera-se a si mesmo e prevalece para além das experiências. Nunca cai em saco roto. Se não agora, depois fará o seu efeito, como poeira que salta no ar mas que sempre desce até ao solo.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A alquimia

Não estás aqui mas estás. É engraçado como fazemos parte da criação. Essa alquimia das estações. A natureza que se renova a si mesma. De onde vem essa vida? Passado o inverno vem a primavera. O que parecia seco, morto, sem sobrevivência, revela-se de novo em todo o seu esplendor. O ciclo dá voltas sobre si mesmo mas na novidade vem sempre algo de novo. Transformado. Não estás aqui mas é como se estivesses. Passa o dia e vais permanecendo de fundo. Assalta-me o querer de saber novidades ainda que saiba poder encontrar-te aqui e agora. De dentro e de fora. Do que tens dado, do que tens recebido. Espero que muito nos dois sentidos. Não tarda nada estás aí. Eu já ca estáva, e estou, a meu passo. A saborerar os pequenos passos. Saiba eu não dar um maior que a perna.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Rebento


É-se livre mas porventura não se é liberto. Podemos optar. Mas, porventura podemos controlar? Não controlamos o que há de maior. Veja-se por exemplo o Amor. Amor, de onde vens? Não é muito mais uma brisa que vai ou vem, sem avisar? Avisar, nem sempre. Assim como vem, vai. Vai, não fossemos nós uma esponja. Quanto mais se aperta mais escorre a água ensopada. Desensopado é o desamor. Querer agarrar o que se esvai quando se sente apertado. Apartado fica quem corre atrás, do que corre a seu ritmo, independentemente do querer. Querer que maturado ainda assim é uma opção. Não falo só do sentimento. Sentimento, moção que nos emociona e move. Co-move-nos mas não chega. Chega a ser pouco só o sentimento que nos arrebate. Arrebate por ser adolescente. Adolescentes somos nós se não optarmos uma vez que seja. Seja arriscar seja tentar, numa tentação que faça boa moça. Numa espera sem esperar. Começar por baixo. Ao nível da base. Indo pouco a pouco. A seu tempo tudo se renova.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Novidade (nova idade)


Novidade. Nova idade. Recomeçar um novo ciclo. Gosto desta imagem, de olhar a vida como uma espiral de ciclos. Assim, partindo para um ciclo cheio de novidade, leva-se no bolso a experiência de ciclos passados. Ainda que custe recomeçar. Às vezes a passagem é dolorosa. Até que assentem as marcas da fase última que se findou e rebentem as novas premissas da ciclo que acaba de começar. Há mais mundo para além do ainda assim pequeno mundo onde nos movíamos. Onde já nos sentíamos confortáveis. A novidade mora em toda a parte. As novas oportunidades, aparecem muitas vezes de onde não esperávamos. Daquela pessoa, daquele acontecimento. A nova idade de tudo o que por nós passa e solicita um pouco da nossa disponibilidade. Saborear o que há de renovador a todo o momento. Por exemplo, nas amizades. A novidade espreita aqui e ali. Talvez não tenha já a mesma imagem a que estávamos habituados. Transfigura-se em novas formas. Transforma-se na novidade mais tenra. E quem sabe, com pernas para andar

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Que lógica


Quem disse que a vida é lógica? Não obstante de poder ter lógica. Sentido que não se conhece no imediato, mas que no decorrer no tempo, alguma explicação terá. Lutar por aquilo que queremos. Pelo que sonhamos. Sai-nos do esforço. Esforço que muitas vezes pode ser acompanhado de ausência de sabor, por acharmos que o que queríamos e da forma como queríamos é que deveria acontecer. Pois é. Às vezes não acontece. Pelo contrário. Até desacontece.

Fico espantado com algumas pessoas que conheço. Pela forma como seguiram em frente, após (durante) uma contratempo.E fazem-no com alegria. Com coração aberto. São de novo felizes. Passam os dias e fica-me a sensação (mais do que sensação) de que de facto, no final de contas, o que nos fica dentro, é o que de grande houve. O que de grande se deu ou recebeu. E de facto o que é importante é a pessoa. É a pessoa que tem valor. Não são as coisas. Não são os preconceitos, os medos de arriscar por algo que nos palpite dentro e nos fazem empurrar o que for, com a barriga para a frente. Daqui ficará o vazio do desperdicio. Da oportunidade de experimentar o além, daquilo a que não fui capaz de me comprometer tal qual se me apresentava, no aquém. Por ser do alto. Por ser o que se procura em toda a parte. O amor.

Porque no fim, tudo passa. Tudo é ultrapassável. O amor, acompanhar-nos-á. O resto vai deixando de ter sentido. Ou pelo menos o suficiente para nos fazer parar. Para nos deter a um compromisso maior. Para além daquilo que pensamos ser o nosso limite, está o caminho que nos felicitará.