sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Por o coração no lugar

Partilho hoje convosco uma explêndida oração para colocar o coração no lugar.

Não te inquietes com as dificuldades da vida
com os seus altos e baixos, com as suas decepções
com o seu futuro mais ou menos sombrio.
Quer o que Deus quer.

Oferece no meio das inquietações e dificuldades
o sacrificio da tua alma simples que, apesar de tudo,
aceita os designios da providência.

Pouco importa se te consideras um frustado
Se Deus te considera completamente realizado a seu modo.

Perde-te confiando cegamente nesse Deus que te quer para si,
e que chegará até ti, ainda que nunca o vejas.

Pensa que estás nas suas mãos
tanto fortemente seguro
quanto mais decaído e triste te sintas.

Vive feliz. suplico-te.
Vive em paz, que nada te altere,
que nada seja capaz de tirar-te a paz,
nem a fadiga mental nem as falhas morais.
Faz com que brote, e conserva sempre no teu rosto
um sorriso doce, reflexo daquele que o Senhor continuamente te dirige.

E no fundo da tua alma, coloca, primeiro que tudo,
como fonte de energia e critério de verdade,
tudo aquilo que te encha da paz de Deus.

Lembra-te, tudo o que te inquieta e oprime é falso:
asseguro-te em nome das leias da vida e das promessas de Deus.

Por isso, quanto te sintas abatido e triste,
adora e confia.

Teilhard de Chardin sj

sábado, 15 de outubro de 2011

Bem aventurados


Bem aventurados os que se descobrem pela mão do Senhor. Bem aventurados os que querem descobrir o mundo, os outros, a vida, e se mantêm rectos no caminho do Senhor. Privilegiados os que se fazem acompanhar pelo Pai, quando se sentem sós, a precisar do colo humano que não tem. É aqui que mora a vida em abundância que tanto procuramos em tudo e em todos, em toda a novidade. É a Ele que procuramos! Quando pois, nos fechamos, nos sabemos perdidos e consentimos à tentacão de fazer um parentesis, de fechar os olhos e "seja o que Deus quiser", estamos desde logo a perder vida, ainda que nos pareca tão verdade que a estamos a ganhar.

Esse parentesis de "seja o que Deus quiser", é já por si um egocentrismo mascarado, a auto-traição que roubará vida a quem invoca este "falso Deus do parentesis". Após a promessa libertadora que nos faz a tentacão, quando consumida, esgota-se em si mesma e deixa-nos num vazio sem igual. Fica a angústia dilacerante de termos permitido destruir uma boa parte da nossa vida por um desesperado parentesis que hipocritamente desenhamos ao nosso jeito. Ao nosso jeito e não ao de Deus. De nós mesmos enquanto Ele em nós, no mais de proficuo que podemos ser.

Bem aventurados pois, os que se fazem acompanhar por Deus, pelo verdadeiro caminho verdade e vida, que o é aqui e ali na camunhão de todos os cristãos, seja aqui ou na China, pois Ele sim nos dá a vida em abundância que tanto procuramos, independentemente da fase da vida em que estamos.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Sentinela

Pára! Quando te digo para parares é para parar. Pára, diz o Senhor. O Senhor chamo-nos a Si, não para nos perdermos, mas para nos encontrarmos. O Senhor chama-nos pelo nosso coração, não para nos deixar desamparados mas para nos acolher e dar vida. Vida em abundância. A nós compete-nos simplesmente procurar permanecer junto a Ele. Sentinela. Durante este trilho a dois Ele nos indicará o que fazer. Graças sempre nos dá. A indicação que d´Ele vem, reveste-se de consolação, fé, esperança, caridade. O que não significa que seja fácil ir para e por onde Ele nos indica. E aí dizemos, sim meu Senhor e meu Deus, ou, não meu Senhor e meu Deus.

O cristão, sabe que é na cruz, sinal do positivo, sinal do mais que o Pai revela também o cumprimento de nós mesmos. Esta é a parábola da vida. A vontade de Deus para nós, não mora na encruzilhada, no desamor, na desentrega, na escassez de vida, mas sim onde sabemos que Ele nos foi e nos é revelado, e aí mora, nos acompanha e puxa por nós.

Quando nos sentimos cansados, em desgaste, é porque não estamos a ir na direção do Amor, mas sim em direcção ao desamor. É por isso alquimia do cristão retirar-se do centro de si mesmo. Esvaziar-se de si. O centro, a árvore que está no centro do jardim, pertence a Deus, não a nós. Aí, a partir d´Ele, ser-nos-ão reveladas todas as coisas.

A tentação

Doce tentação! Esperta. Aparece-nos doce, propícia, "agradável à vista e saborosa no paladar" (Génesis 3 1-6). Pecado. Lança-nos para a frente, revestida da sua forca, que esconde por detrás desta, a podridão da mentira. Por ser tão astuta, chega-nos a convencer que é ela, a verdade verdadinha do nosso coração. Encanta-nos. Promete-nos mundos e fundos ainda que não tenha boca para falar. Aparência de bem. Senti-la não tem perigo! Consenti-la é abrirmos as portas ao engano, de nós e dos outros!

Tomar uma opção ou partido de uma atitude em relação a algo, só porque fugimos de uma dada dificuldade, tem os dias contados até à nossa vertiginosa queda. Por ter sido o voo tão alto, por nos saber tão bem em apetite, a tão aparente real leveza que íamos sentido enquanto nos distanciávamos, naquele "maravilhoso" voar!

A tentação é um músculo robusto. Com uma marreta não a deitamos a baixo. A tentação é um músculo robusto, balofo, mas basta um alfinete e ela, puf! Não tem por isso no duelo a última palavra! Não tem, por ser egoísta e exigir de nós um culto total, para que possa subsistir em auto-suficiência. Sentimo-nos auto-suficientes. Protege-nos do confronto, mas tira-nos vida. Acabamos por não deixá-la sobreviver, porque esta nos desgasta, porque a tentação mora na cabeça e não no coração. Faz-nos correr correr correr. E até gosto nos dá. Faz-nos requerer mais e mais razões para que possamos rescindir o pacto com ela. Prende-nos o querer. Desafia-nos em mais e mais razões para a adesão total do que nos é do dentro. Do coração. Distrai-nos constantemente, adia-nos constantemente, por querer ser rainha e dona de nós. Tira-nos vida. "De uma forma ou de outra há-de haver uma hora em que da vontade de parar."

Percebemos que não é a correr que se chega onde se quer mas sim com a serenidade de quem mergulha no Encontro, adere por e pela fé, e não, pela razão. Confiando-se ao Amor. As razões são periféricas ao Encontro. Quando se experiência o verdadeiro Encontro, lembramo-nos nós por ventura das tantas encruzilhadas que rolam cá dentro?? Nada!

As razões podem clarificar-nos as hipóteses, as susceptibilidades. Mas não são elas que nos dão a vida. Quem dá a vida é o Encontro. O próprio Deus afinal. Nós, mais como Ele. Cai a máscara, no fundo é Ele quem queremos. Não o queremos ofender. Queremo-Lo a Ele por inteiro no centro, e não nós. Esta é a parábola da vida.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Filha da mãe

O respeito pela nossa liberdade é o inicio para que esta seja respeitada, por nós, pelos outros. Assim, porque a liberdade em verdade nos completa, quando a usamos para nossa própria edificação e edificação de todos, fica-nos subsequente, como marca que não nos prende em submissão a alguém mas sim à ascendência de nós, dos demais. A confiança, como filha querida que é da liberdade, sai à mãe, naquele seu tique de fortaleza. O bem, vestido de confiança e na sua total revelação, não suporta muito a submissão de obedecer só porque sim. Só porque faz parte do que sempre houve. Se assim for, agora ou depois, precisam de revelar a sua humanidade e é aí, porque mais divinos, nos aproximamos no essencial e reconstruimos de novo com o que já havia de bom, a nossa liberdade, a dos outros.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Rezando


Faz tempo que me queria expressar assim. Ao partilharem este texto comigo "reconheci-o" de imediato entre o que vai cá dentro.

"Mudai os vossos corações
não há conversão sem mudança de coração
mudar de lugar não é solução
mudar de actividade não é solução
a solução é mudar os nossos corações
e como os mudamos? Rezando."

Madre Teresa de Calcutá

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Abraço


Engraçado como o abraço é sinal da dimensão das relações. Ele há abraços serenos, apertados, ao de leve, excitados, exaltados, de saudade, de entrega, de integração, de pouco, de tanto. Aquele abraço que nos deixa em braços ou a braços com alguém que no fundo à escala particular de cada relação, precisa de nós e nós dele. Todos nos marcam, assim como como quem no lo dá. Outra experiência do abraço há, que por si só vai para além de si mesmo, é um acorpo. Quando duas vidas se precisam mutuamente para conseguirem ser a vida maior que sozinhos não são. O acorpo de quem se quer em osmose, a ponto de se ser um só. AbraçasTe a cruz de braços abertos. Exercício fisicamente pouco provável mas espiritualmente possível. Desejar um Cristo sem cruz dará vivermos uma cruz sem Cristo. Abraçando-Te acorpo vou para onde fores, faço um pedaço da Tua experiência, no fundo mais perto do que maior posso ser.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Paz-ciente

Apenas fica o que é Grande. O que era de valor permanece com valor. Podemos ir e voltar, fazer o pino, afirmar o inoportuno, passa o tempo, e apenas fica o que já lá estava, o que é Grande. O semeador pode cuidar da terra com todo o cuidado. Pode até tratar da cultura como nunca tratou de outra, mas tem que ser paz-ciente. O fruto, o alimento, nasce a seu tempo. Tem que ser paz-ciente o agricultor. Pode ficar de enxada na mão, a namorar a terra que lhe trará a tão aguardada fecundidade. A semente esta, apesar de ainda não ter visto a luz do dia, forma-se por dentro. A paciência é a ciência da paz. Não vale pois a pena o semeador rebeliar-se. O Criador promove a paz. A natureza promove a harmonia de todas as coisas por si mesma. Estar paz-ciente, ciente desta paz. Desfruta disto, quem permanecer confiante, a cuidar da semente com a mesma dedicação. Esta, continuará por si e com o acompanhamento que a nós nos for possível, a crescer, pois foi semeada e tratada para se valorizar, para ser Grande.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Cheque com-fiança


Cheque com-fiança. O que nos move a fiar o nosso coração a outro? No fundo, estamos a passar um cheque em branco, sem saber se será utilizado para o motivo pelo qual nos foi pedido. É sem dúvida uma fiança que pode levar consigo o valor da nossa própria vida. Quantas vezes não recebemos também nós estes cheques! Nem sabemos bem o que temos na mão. Apenas sabemos por nos dizerem que é muito valioso e se o usarmos bem, não dará para o todo por sermos nós partes, mas dará para o tudo, tudo aquilo que nos fará falta. Cabe-nos a nós para nossa própria felicidade, sabermos das nossas verdadeiras necessidades primeiro não se vá esgotando o cheque em coisas que nos poderiam consumir muito depois. De todo, aconcelhar-mo-nos com quem está habituado a lidar com cheques de grande valor. O Mestre e os mestres da gestão das grandes fortunas do dentro. Teremos de certo 4 ou 5 à nossa volta. Reconhecer que podemos não estar a saber gerir um tesouro não é derrota, mas sim o principio da vitória.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O mestre


Porque é que Jesus não podia sair da cruz? "Quem não se retira sabe de amor". Que ideia a nossa de tentarmos manipular a todo o intante a invazão da nossas inseguranças. Alimentamo-las precisamente quando nos desconectamos da única coisa que pode vencer o medo, o Amor. Ei-Lo na cruz, fiel ao amor e não à dor. Jesus centrado no essencial, não fala na cruz, dos pregos que Lhe rasgam os pulsos, da asfixa por estar suspenço, ou ainda na coroa de espinhos que que Lhe fere a face, ainda que seja Humano, e tenha sede. Antes, numa leitura envolta em Amor suspira pela presença do Pai, agonia-se com a Sua aparente ausência, e ainda assim pede-Lhe que perdoe os demais por não saberem o que estão a fazer, entrega nas Suas mãos o Seu espírito. Dá a oportunidade a Si mesmo de fazer a experiência da plena confiança no Pai, que afinal permanece junto a Ele e O ressuscita.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Amizade


Há dias assim! A surpresa acontece por que de rompante. Os amigos são sem dúvida uma grande riqueza! Individualidade vs dependência. Quanto menos se espera vêm-nos o conselho, a esperança em palavras, a compreensão, a abertura para uma nova visão à qual sozinhos não chegaríamos. São uma boa parte de nós. Conhecem-nos, e para além de nos conhecerem são um bom horizonte para nos lembrar quem somos, o que nos faz bem no fundo. Não precisam saber todos os pormenores. Precisam ter a sua experiência. Não somos tão diferentes assim uns dos outros que não possamos confiar no essencial. O essencial que agora ou depois, venha a cavalo de inverno ou de primavera, virá ao de cima.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Fidelidade


Porta para a experiência da libertação. Reflexo de maturidade.
Na verdade, somos mais propensos à fidelidade quando as razões que nos convidam a sê-lo, no fundo, nos potenciam o melhor de nós e do outro, retiradas todas as dimensões que não correspondem à verdade de um coração alimentado pela Fonte.

Enraiza-se a fidelidade quando acompanhados de inteligência, do querer e do salto da fé. Ainda que natural porventura, não deixa de ser uma opção, à qual não assiste o contexto, mas antes assume todas as consequências. Testa-se muito mais na prova que na facilidade. Mais ainda, poderemos corresponder-lhe tanto mais, quanto mais provação houver.
A memória do verdadeiro encontro é o factor constituinte da mesma que nos acompanha e nos vai sustendo a adesão. Memória esta que também nos há-de vir depois máscarada e tentada por novos artifícios gerados pelo medo, insegurança. Pela incapacidade nem que seja momentânea de não termos disponível o caminho a que nos leva a inteligência e para além desta, numa margem que não lhe compete, a fé.

Carecemos pois de renovar o desejo, as razões que a inteligência selecionará, assim como de renovar a densidade da fé. Regressando ao encontro ser-nos-á revelado de novo o caminho a seguir, agora mais maduros, mais entregues, mais fiéis.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Vice - Versa


Vice: a qualidade da nossa relação conTigo reflecte-se na nossa relação com os outros. Versa: a nossa relação com os outros reflecte a qualidade da nossa relação conTigo. Não poucas vezes, porque sim, porque não estamos capazes, porque não unificados, porque dispersos e perdidos, fugimos, corremos para onde der, menos para onde tememos o reencontro, o ainda assim tão preciso e desejado reencontro.

Sabemos-Te de braços abertos, acolhedor, à espera, sem que tenhemos hora marcada para estar em casa. Na Tua casa. Não és peso, mas esperança. Por mais dispersos que estejamos, desejamos profundamente que tomes nas Tuas mãos a nossa vida. Sabemos que és o sentido, a verdade, a vida em abundância. Esperamos desesperadamente por Ti. Esperamos desesperadamente pelo encontro dos nossos corações.

Na cruz, revelas a entrega, a exigência da dor, mas também a glória do amor que ressuscita que renova e intensifica o desejo de permanecer a Teu lado enquanto crucificado. A riqueza da fidelidade.

Agradecido pelo mais da oportunidade, de crescimento. Glória sempre a Ti.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Reencontro. Porta para a transfiguração.


Reencontro. Porta para a transfiguração. É como se de repente o longe tivesse sido uma miragem. O coração entrega-se de súbdito como uma criança que corre para o colo da mãe. O reencontro pasma-se de tanta realidade. O querer vem de todos os lados. O olhar é a passagem para o nível do não visto. O aproximar, a ponto de fundir, lembra que não é um desconseguido sonho. A realização vem quando surge um "tu" que nos é mais do que o Eu. A voz que chama, que vem de fora, que ressoa cá dentro, quando à escuta, atenta nos sugere a integridade do dentro. Vocare, completa porque és Tu, transfigurado.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Relacionarmo-nos para a liberdade

Liberdade interior. Núcleo gerador de uma vida bem vivida, no que de melhor há para viver. Relacionármo-nos com os outros para a liberdade de si mesmos é um fiel fantástico do nosso próprio Ser. Indicador por excelência, que espelha bem, se a própria da liberdade interior é ou não uma realidade em nós.

Curiosamente, é assim que nos libertamos a nós também. É assim que crescemos e fazemos crescer. Com opacidade, afeitamos a liberdade do outro para que, não poucas vezes, façamos corresponder a sua orientação com a necessidade de fortalecermos o que em nós é frágil. No fundo, não queremos tanto a coação ao demais por si mesma, mas sim afastar de nós o que no dentro nos possa insegurar.



Há-de-se por tal, garantir que o outro possa decidir por si. Invocar-lhe, a sua inteligência e o seu coração, partilhando imparcialmente de nós tudo quanto sabemos por experiência feita. Só assim se encontrará consigo. Só assim chegará lá por si. Só assim exercitará a sua liberdade.

Só assim seremos nós livres porque entrámos-lhe dentro e nele deixámos o que lhe pertence. Relacionámo-nos para a liberdade que é sua e não nossa. Quanto mais liberdade houver mais responsabilidade se gera.

A Graça é dos dois.

domingo, 29 de maio de 2011

Imaginação

A susceptibilidade das hipóteses. Damos voltas e mais voltas a cabeça por entre visões e adivinhas a que nos impele a imaginação. E a insegurança também.

Num triz, projectamos, no que de melhor temos provavelmente, os de mais cenários, pertenços a um filme que desejamos não ver realizado. Desempenhamos e trocamos de papéis a todo o momento. Do nada, somos actores exemplares. Seguimos o guião das nossas entranhadas frustrações do não conseguido, ou do possível adquirido que ai possa vir, mas que é de certo non grato.

A imaginação é um termómetro fantástico de nós mesmos. É reflexo do que cá vai dentro. Tanto dá para ser o sonho que em nós potencia o que nem ousávamos sonhar, como dá para ser ser pesadelo mascarado de sonho que nos vai minoritando mesmo antes das visões e adivinhas poderem chegar a acontecer.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

sábado, 14 de maio de 2011

perfeito vs sanctus

Cresce-me com alegria. Sem desespero. Cresce-me em sabedoria. Assim espero.

Não aconteça incorrer na luta desigual de quem se quer ímpar e tanto, original, perfeito, com pouco de Santo. Escassos são os milímetros que separam a permuta dos caminhos, que aparentemente, se aprontam idênticos.



A perfeição aporta-se em nós. Todo o momento tem que ser um exemplo. Ficamos distantes do fora, pois o centro está dentro. Surte o efeito perverso de nos içarmos em nós, dessa prossecução nos tomar por inteiro.
A perfeição não dorme, nem se dá ao descanso. Torna-se a exigência uma obra prima, sem vida, esculpida em nada, que não rima, que tudo exclui ou demais absorve. Se possível, quem nos dera estar longe de todos (porque cada um nos atrapalha), se possível até de nós (por ser o nós que nos encalha).

Quando chega a lucidez há um querer de Santidade. Os caminhos, que aparentemente, se aprontam idênticos, diferem afinal. Consiga eu ser livre de tão profícua a disponibilidade. Disponível para Ser Humano a caminhar para o Divino. Sendo-me exequível ficar com ou ficar sem.

Cresce-me com alegria. Sem desespero. Cresce-me em sabedoria. Assim espero.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Guia

És guia. Sabes se-lo. É-te nato o dom. Guias a partir de dentro. Guias-me a partir de dentro. Conduzes-me para onde nunca fui. Sabes ser guia onde nunca estive. Não precisas de te esforçar para tal. És assim por natureza. Uma natureza que agradeço sem cessar. Volta. Volta que te espero. Guia-me porque é sempre preciso que me guies, a partir de dentro.

quinta-feira, 31 de março de 2011

De novo

Voltar a ter-te de novo. Renascer contigo a partir do Ser. De faces voltadas de novo. Sentir que me cativas. Que me fazes tornar a viver. Depois do deserto, a terra prometida. Como a avezinha que reaprende a voar, de novo, levanta voo a medo mas confiante que há-de ser capaz. Contigo sou capaz. Não fosse eu mais Eu contigo. Sendo o que És de fundo ajudas-me num mais possível de construtivo. Fico assim mais parecido comigo e tu edificando-me te edificas reafundando a fundo, o fundo que não queríamos ter nunca perdido. Mais água leva o poço quando este está vazio. Toma-me o coração nas tuas mãos. Peço-te. É teu. Nosso. Confesso, que bom termo-nos voltado de novo. Para mim. Para ti. Para nós.

sábado, 26 de março de 2011

Sou-te

Quero agarrar-te sem sentir que me escapas. Saber-te por dentro a ponto de nao precisar de te prender a mim. A ponto de nos pertencermos em liberdade. Saboreando a saudade como tempero do que temos construido. Sermos juntos. Sabermo-nos perto no essencial. Sermos a essëncia no além e no aquém de nós. Lucidez. Sermos lúcidos no que realmente importa. Cuidar do que já se é. Procurar ser o que se deseja em sonhos por ser em nós o onde da possibilidade real dos mesmos. Nao vedar o que se sente de degenerativo. Seria privar uma parte da totalidade que nao é divisivel. Acolho-te na fecunda necessidade de nos termos. Sou-te.

quinta-feira, 17 de março de 2011

humanidade

A humanidade que tens fascina-me. Tão natural, tão eminente. Tão cuidada. Preciosa. Tão nobre a forma como rica no dentro. Feitos da mesma massa. Não és vedeta. És de cá. Como eu. Frio, comichão, fome, má-disposição. Traduzes em beleza o que És. Brio, assertividade, transparência, novidade. Expressas-te em todos os 5 sentidos com o mesmo querer. Atentas-me em cada pormenor. Entregas-Te para mais, pelo bem maior que sempre se busca na comunhão. Comum-união.

terça-feira, 15 de março de 2011

Colo

No colo descanso. Sonho acordado. Manso. Acolhido em braços que parecem um berço de embalar. Respiro tranquilo. Respiro daquilo que desde sempre se procurou cantar, escrever, falar, Ser. Dás-me colo porque me quereres bem. Não há necessidade de ser eu, alguém que não eu. Faz-se perto a distância que nos possa separar, no meio de uma velocidade feroz que tenta fazer de nós, avezinhas confusas em busca do ninho. No colo pareço sozinho, por tanto se interlaçarem aqui, no ninho, o querer maior de uma experiência de céu. O céu, no colo.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Agora

Estamos em directo. Não há depois diferente nem futuro equivalente ao ideal dos dias. Não haverá certamente, tempo mais propício que o Agora, para fazer acontecer o que sonhamos ,para aquele depois que nos habita o desejo. Por isto, um dia quando...farei assim e assado? Um dia...hoje não merece o esforço que só parece ganhar sentido num futuro que provavelmente nunca virá por mais depressa que corram o passado e o presente juntos? Não! É-se por opção. Ou não se chegará a Ser, por estarmos sempre à espera do tempo que não prometeu vir.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Todo sem partes


Tudo fica bem quando começa bem. Partir para o dia de bem com ele, comigo, com o que me eleva para o que acordei para ser. Sendo, o mais possível de mim, logo de início, com quem me faz Ser. Simplesmente Ser, o mais de mim. Sem nada para dar, sem nada a receber. Apenas a presença basta para não haver partes para a soma, por ser o todo, um Todo só por si.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Ganha o Silêncio

Por vezes, tento trazer de dentro para fora o que És, cá dentro. Batalha em vão, por ser tão mais que o possível de se dizer, ainda que de dicionário aberto. Ganha o silêncio. Linguagem de quem É, sem precisar dizer alguma coisa para chegar a Ser. No silêncio escuto o que de mais fundo há. No fundo o que de mais fundo És. Quanto mais se vai escavando mais inteiro fico. É o estranho jogo de morrer para ganhar nova vida. Sem prescindir do que sou vou sendo desarmado nesta luta desigual, para que ganhe o que é Maior que eu. Um tanto, ao qual curiosamente, não chego, mas antes, que me alcança.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

com-sentido


Pediste-me para confiar.

Tarefa difícil quando, cheios de nós,
sem sentido,
teimamos supor que suportamos por nós,
o que talvez não nos pertença ter por concluído.

Assemelha-se à ilusão de controlar as hipóteses num qualquer jogo de sorte. É tanto o querer que nos chega a parecer real uma realidade que nos ultrapassa.

Começa-se sentido.
Quero dizer, Sem-tido, por nos escapar o ter.
Depois, volta-se ao ponto de encontro onde nos cruzámos da última vez. Aí, tudo ganha de novo, um novo sentido.
O mesmo, a partir do qual se tinha partido,
a partir do qual tudo fazia sentido.
Nunca se chegou a perder,
apenas se preparava para em resiliência voltar, contido.
Quero dizer, com-tido, por passarmos a ter.

Tarefa simples porque, cheios de Ti, agora com sentido.
De mim, apenas o coração dei,
e porque foste Tu a pedir,
a pedir para confiar com ou sem tido,
sorri, confiei.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Poema à mãe

Porque há "mães" que entretanto perdem o rasto do nosso dentro.

"No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...

Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal..."

Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...

Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves."

Eugénio de Andrade

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Nos rumos do homem novo



Esta letra...!

Na vara que se abre em dois caminhos,
Aceitamos proposta de opção,
Sabendo que nunca vamos, sozinhos
Quando é por Cristo, a decisão.

Mochila às costas, com o pão e a palavra,
Levamos tenda prontos para partir.
Guia-nos um fogo, que não se apaga
Que acende no lenço, a cor do servir.


Refrão
Ser Caminheiro
nos rumos do Homem novo
ser construtor,
de um mundo novo
caminhando no amor
ser Homem novo.

Sonhamos cada dia o amanhã,
E que queremos de esperança decidida,
E partilhar na carta de clã.
Nossos rumos, prosseguem aventuras
De encontros do Homem com Deus,
Na história.
A exigir a coragem de rupturas
De que a cruz no mundo, gritar memórias.

Refrão

Nas palavras de montanha, a verdade
A chamar por coerência e compromisso,
O evangelho feito comunidade,
Vivido em atitude de serviço.
De B.P. vem, o apelo a navegar,
Caminhos de triunfo, a felicidade,
Em Jesus Cristo a meta a alcançar,
O Homem novo chamado à eternidade.

Refrão

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Pelos dedos se conta a partilha

Pergunta-se para não se ouvir. Na realidade, ouvidos moucos ao que de facto seria relevante, para nós. Acontece quando nos abordam, sem no fundo, haver real intenção em saber como estamos.
A questão é subtil. Normalmente invertida. Não a métrica. A semântica. Detecta-se, se por exemplo, na frase vier um tal de "então como vão as "coisas"?".

Qual foi a última vez que se perguntou: "como estás? (tu)". Sim, para tal é preciso disponibilidade, é verdade. Talvez seja por isso que é irritante de se fazer, a pergunta. Em resposta pode sempre vir um "não estou muito bem" e ai sentimos a necessidade de cuidar, deixando vir ao de cima a natural propensão à psicologia do senso comum que todos temos.

O que vale é que as "coisas", essas, à partida, estão sempre a correr lindamente.
No decorrer, vai-se perdendo o desejo de fundo e fica apenas a pobre conversa onde só há espaço para contar e não para partilhar. Contar tem apenas um sentido. Partilhar tem dois. Contando fica-se ainda mais vazio. Partilhando somos Um, depois.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Experiência de céu


Aprender a viver numa experiência de céu. Tanto de novidade como de querido e já conhecido por dentro, faz tempo, por tanto se desejar. A realização é veridica! Quando em maturidade, chega-se perto do que de maior há para se ter, em vida. Ter, que no fundo é um tudo de Dar. Por vezes , a possibilidade de nos sentirmos nós mesmos parece-nos vedada. Zona interdita, até ao dia que "do céu" chega a Graça. Um céu que se faz de dentro para fora e de fora para dentro, numa linha tão ténue, que nem se chega a confundir, por ser, em unissono a mesma Vida. Ressuscitado, proporcionas esta nova Vida, que és Tu mesmo, em nós.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Contigo Maria


Espreitar atrás da porta
Descobrir um quarto escuro
Inventar uma nova rota
Deixar o porto seguro

Caminhar por entre as trevas
A sorrir com confiança
Saber que a mão que nos leva
É a luz da nossa esperança

Contigo Maria vamos
É em ti que encontramos
A força para sonhar
Contigo Maria temos
A alegria que revemos
Nos gestos do teu amar

Estar atento que a meu lado
Pode andar alguém sozinho
Correr sempre ao teu encontro
Fazer da vida o caminho

Contemplar-te neste mundo
A sarar todas as feridas
Olhar cada vez mais fundo
Ter nas mãos o dom da vida

Contigo Maria vamos
É em ti que encontramos
A força para sonhar
Contigo Maria temos
A alegria que revemos
Nos gestos do teu amar

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Como Maria

Podemos estar longe. Pode até ser real a distância. Sentir-te perto porque em mim não moras fora, mas dentro. Braços abertos. Desta paisagem, fica a vista deslumbrante, do que és, vendo de fora o tanto que há no avesso. Muito de Deus, muito de humanidade. No fim de contas acontece a quem se deixa vencer pelo que é Maior. Ensinas-me a morrer. Deixar de ser aos poucos o que não nasci para ser. Sermos, a pouco e pouco. Chegar perto do que sonhas para mim. No fundo o que desejo também eu. Um todo que num fundo é meta. Meta para começar. De braços abertos. Como que suspenso. Entre o céu e a terra. Estás fora da cidade. O mundo não se deixa fazer perto. Por mim, num tanto de querer, acolho-te, ainda que te veja assim, de longe. Ternura. A experiência do amor maior que no reverso tem muito de: "mas como será isso se não.. Virá sobre ti o espírito santo..".

sábado, 29 de janeiro de 2011

o milagre da aparição

Os milagres da nossa vida.
Já por si a Existência como um milagre.
Uma realidade que não está acabada, uma experiência envolta de mistério. Tudo está em contínua criação.Eventos há que parecem abrir um parêntesis de eternidade. Chegam a tocar o próprio Deus. Fora do espaço e do tempo mas que se faz Presença bem no dentro da própria humanidade de cada um. Estando atentos, quantos e quantos milagres não vão acontecendo no dia a dia! A própria conversão a que o Amor possibilita em tudo o que se deixa transformar por Este. Não estava previsto. Parece impossível. No mínimo, muito pouco provável. Mas Ele vem. De maneira sempre criativa e revestida de novidade, expurga-nos para algo, que estará algures, mais perto do pleno. Eis se não quando, uma própria aparição que nos possa despertar de dentro para fora o que de melhor temos para dar. Algo que portanto faça a diferença. Não é um simples acontecimento. Este revela-se ímpar. É! O mais possivel cheio de Graça.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Amigos em Cristo

Estar com sem estar. É-se e pronto! Esta-se por meio de Quem de uma forma ou de outra nos apresentou. Já nos conhecíamos antes de nos conhecermos. Já falávamos a mesma linguagem antes de nos darmos à conversa. Confiamos por saber em Quem pomos toda a nossa confiança. Duvidamos como ele duvidou. Mas queremo-nos dar como Quem escolheu Amar até ao fim. Partilha-se o que se é sem ser preciso permissão. A permissão está dada. É todo um mistério. Não um enigma. Mistério porque há todo um horizonte pela frente. Tocamos-lhe com o olhar, tomando uma mesma direcção.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

timmings

Depois isso vê-se.. depois depois depois. Um futuro que nunca chega a ser presente. Acontece com os "cafés pendentes". Acontece com as arrumações domésticas do dentro. Acontece com tudo o que afinal chegaria a ser primeiro se fosssemos nós a todo o momento quem agarrasse cada minuto que também nos pertence mas que deixamos passar como se assim não fosse. Tanto queremos ser donos do tempo como o desprezamos deixando-o no seu adiantar natural. Quem colocou o primeiro tiq-taq a rolar? Dá-me graça pensar nisto. Este 'cronos' que é sempre o mesmo mas que é tão diferente dependendo da experiência. Dá-me Graça pensar que cada um tem o seu tempo próprio. Cada coisa. Ter a liberdade de poder fazer com este 'kyros' um processo individual de crescimento, ou de apatia. Há 'depois' que, se não se tomam como Presente não passaram de um Futuro que nunca chegara a ter Passado.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

trilho..

Quero-me apaixonar ainda mais pelo que é do Alto.E ter a todo o momento saudades de tudo, ainda que não viva dependente das mesmas.Saudades que mais parecem estar para além da normal dimensão, fora do espaço e do tempo. Mas não são só saudades eternas. São também,ternas. Constroem. Serenam. Quero Ser, a partir desta sedução transformadora.Dar o sentido maior a todas as coisas. Ir ao 'fundo do baú'!Ser o que ainda não sou de completo,escutando confiante, ainda que assustado, o que vem la do dentro e me impele a esse 'trilho desconhecido', que curiosamente me da vida.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Castidade..

Castidade. Amar sem querer ter. Sem me prender ao outro. Sem deixar que o outro dependa de mim. Virtude dificil esta de aplicar em todas as nossas dimensões. Em todo o tipo de relações. Ora se quer possuir para obter dai maior segurança, ora se quer deixar ir por se perceber que não somos o todo que os demais possam precisar. Então, serenidade no intenso dar. Simplicidade no poder receber.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

multidão

Às vezes é assim. Há dias como o de hoje. Quase me sinto como um actor que tem a oportunidade de, desempenhando vários papeis, viver de perto outras vidas que não a sua. Isto porque, estando atento, muitas pessoas são para mim significado de muito olhar, muito ouvir, muito falar, muito de chegar a ser, por momentos, o outro em mim. De tudo se tenta encanto. Nem tudo encanta. Mas tudo tem o seu toque de Beleza.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

paco de lucia entre dos aguas original



Que condição genial a nossa de poder optar pelo bem maior. Experimentar no dentro o que chega a ser Deus. Experimentar no dentro o que somos apenas a partir de nós. Experimentar o que outros são em nós. Aquele gesto, aquele olhar, aquele ser discreto mas perto, aquela incerteza que é certa. Fico maravilhado com este "Entre dos aguas"; parece natural (e em certa medida é) mas espelha bem que para chegar a este nível de qualidade é preciso trabalhar, e muito.