quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Partilhar

Partilhar. Partilhar é devolver o tudo que pertence a todos.

domingo, 11 de novembro de 2012

As balas

Pistola. Sim a pistola. Pode ser óptima para resolver problemas. Pode ser que se acerte no alvo à primeira. Mas primeiro é importante dar nome às balas. Sim. Dar nome às balas para saber quais usar em cada momento. Os alvos não são todos iguais. Não nos podemos por isso enganar nas balas. Imagine-se se é preciso uma bala de borracha e no rótulo diz ser uma bala de chumbo…
As balas são o que nos vai dentro. Os sentimentos são balas estupendas.

Dar nome às coisas. Sim. Se  as coisas têm nome é para serem chamadas por ele. O nome ajuda a clarificar. A tirar a dúvida de se estamos presente disto ou daquilo. Sabe-lo, pode mudar muita coisa em nós. Libertamo-nos cada vez que damos nome ao que se passa cá dentro. Não o fazer, é deixar evoluir exponencialmente muitas das moções interiores que nos roubam a paz, o equilíbrio, que nos perseguem e condicionam no dia a dia, ou até aquelas que exacerbam como que de uma lupa se trata-se, as nossas qualidades, parte vital do nosso ego.

Olhando por exemplo para o nosso cérebro, ou até para o nosso coração. Essas pistolas sempre prontas a disparar.
Num dia em que se acordou irritado. Consequência possível: tudo me parece correr mal. Se calhar poderia começar por identificar o porquê de estar irritado.
Ah! Ontem aquela conversa à noite, com tal pessoa, pôs em evidencia um dos meus maiores medos: o de ser desvalorizado pelos outros. Chamo-lhe por isso: medo, insegurança. Senti-me ameaçado. Haveria razões para me sentir ameaçado? Ah! Então eu não estou irritado porque me custou imenso levantar cedo, ou porque tenho imensas responsabilidades para fazer hoje (como pensava) mas sim porque me irrito cada vez que alguém põe em evidencia os meus medos. Ponderar. Ganhar distância critica. Relativizar positivamente. Para poder integrar isso em mim. Assim, liberto, estou mais disponível para fazer o que tenho a fazer. A ver como sai bem. Agora sim. Sei o nome da bala. Posso disparar.

Mas nem só as nossas balas de fragilidade são motivo para nos levarem a um estado de alma, aparentemente sem precedentes. As virtudes também.
Num dia em se que acordou cheio de coragem. Consequência possível: dou passos maiores que a perna, fico frustrado por não ter conseguido. Se calhar poderia começar por identificar o porquê de estar frustrado. Ah! De facto aquele elogio que me fizeram ontem acerca do meu trabalho levou-me a achar que poderia fazer o dobro em qualidade. Encheu-me de coragem. Gostei imenso de o receber. Será que consigo mesmo ou fiquei a achar que conseguia para poder impressionar a pessoa que me fez o elogio? Hum, se calhar é isso. Na verdade o trabalho que fiz foi muito bem feito. E serei até capaz de melhor, mas.. vou talvez dar um passo à medida do que for realmente capaz. A bala da frustração já não faz sentido. Ponderar. Ganhar distância critica. Relativizar positivamente. Para poder integrar isso em mim. Assim, liberto, estou mais disponível para fazer o que tenho a fazer. A ver como sai bem. Agora sim. Sei o nome da bala. Posso disparar.

Ao contrário, tanto num caso como no outro, vejamos o que acontece se eu der nomes errados às balas.
Imagine-se que tanto na primeira situação como na segunda chamo ou deixo que chamem ao meu medo, insegurança, coragem: estupidez. 
Não tardarei a achar que sou estúpido. E tudo se deve à minha estupidez. Não. Dar os nomes certos às balas é importante. Que tiroteio de mal-entendidos pode acontecer se não o fizermos! Rodar o carregador é se quisermos o discernimento. Desfiarmo-nos a ponto de reconhecer a origem profunda do que se passa dentro de nós. Assumir o que se é, para podermos existir. “Não é o que entra pela  ‘boca’  do homem que o torna ‘impuro’; mas o que sai da sua ‘boca’, isso o torna ‘impuro’ ". Mt 15, 11 .Sermos atiradores furtivos de bem-entendidos.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Bicho da seda

Os bichos da seda. Comem folhas de amoreira. Têm pouco tempo de vida enquanto tal. Têm o seu projecto. O seu casulo. O seu percurso próprio de interioridade. Isso é lá com eles. Não precisam de se comparar com os outros moluscos e ainda assim chegam a voar enquanto borboletas. Transfiguram-se. Como é que um bicho da seda se poderia comparar com um caracol? Imagine-se que o bicho da seda tinha inveja do caracol por não ser escolhido enquanto petisco numa qualquer esplanada no verão. Ora, esqueceu-se que o caracol não produz seda e ele sim. Que o bicho da seda, depois de responder positivamente à sua vocação, voa.


Comparar-se com alguém é ser-se injusto consigo mesmo. É não ter respeito por si. Ter o síndrome da comparação é não assumir o que se é. É ter medo do fracasso.  Não assumindo o que se é não se existe. Sobrevive-se. Não se dignifica. Comparar-se com alguém é rejeitar o seu projecto. É não ter coragem de fazer o percurso pelo seu próprio pé. É falta de confiança. De amor próprio. O bichinho da comparação corrói por dentro. Leva à frustração. Porque nos projecta para uma realidade que não é a nossa. Nem pode ser. É uma espécie de inveja. É viver alienado de si. O viver da aparência nasce da comparação. Não se é, mas tenta-se parecer que é, para estar ao nível com aquilo a que se compara.


«A razão mais sublime da dignidade humana consiste na sua vocação à comunhão com Deus. Desde o começo da sua existência, o homem é convidado a dialogar com Deus: pois se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele, e por amor, constantemente conservado: nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e não se entregar ao seu Criador». Vaticano II “Gaudium et Spes”

Outra coisa é a observação. Observar e tirar proveito da vista. Não ficar fechado no nosso casulo por se querer existir. Assim cada um de nós, apesar de todos rastejarmos poderemos voar também. Basta desenvolvermos a nossa missão. Que o ser humano, depois de responder positivamente à sua vocação, voa. Sermos bichos da seda.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Uma oportunidade

Cada dia é uma nova oportunidade para amar. Mais. Melhor. Mas não para amar com um amor qualquer. Porque amar com o nosso amor é pouco. É precário. É pré-histórico. Dá-me ó Pai, o Teu filho Jesus, para que em cada novo dia possa amar, com o Seu amor.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O reino da formiga

Imagine-se uma formiga. As formigas são muito trabalhadoras. Observa-la a construir a sua casa é algo de impressionante. E quando leva consigo o alimento? Pode transportar com cerca de 100 vezes mais do  que o seu peso. Era como se os humanos conseguissem transportar um carro com as suas mãos. 
Estupendo. Imagine-se uma formiga destas. Que tem um potencial imenso. Um força brutal. Uma formiga que teria como anseio ter todas as formigas do mundo a trabalhar para si. Ser dona e detentora de todas as formigas. Sonha um reino só seu. Um reino onde todas as formigas a contemplassem, adorassem, e a coroassem de grandeza. Grandeza que afinal todas as outras formigas também possuem. A formiga não sabia ter este sonho. O de ser a rainha do reino das formigas. Se lhe dissessem ela até ia ficar espantada. Mas no fundo, tudo o que fazia, fazia-o como quem quer ter um reino só seu, maior que todos os reinos. Aliás, ela queria que só houvesse um reino. O dela. E logo ela que nem se conseguia gerar a si própria. É minúscula e quer que haja um só reino que tenha o seu nome. Ainda que se aperceba que não é a responsável pela existência de todas as outras formigas. Queria um reino só seu, apesar de se aperceber que um outro reino do tamanho do infinito, existia, e não era dela. Pobre formiga. 
Reino. Chega a ser patético pensar construir um reino só nosso. Ridículo.  Que dimensão teria? Quantas pessoas eram precisas? Seria um reinozito com as centenas de pessoas que conhecemos? Ou teria  todas as pessoas do mundo? Para quê? Para que é que queríamos um reino destes? Teríamos capacidade para o governar? Temos imenso potencial de facto. Uma força brutal. Mas não. Não podíamos sustentar um único reino, só nosso. E o engraçado é que  “quando não estamos a construir o reino de Deus estamos a construir o nosso reino” (José T. Mendonça). Assim, se tudo o que fazemos, tudo o que pensamos, não tiver em vista a colaboração na construção do reino de Deus, estaremos a construir o nosso reino. Ou o reino de outra pessoa até. Assim como a formiga, que no fundo no fundo sonhava em ter um reino só seu e tudo o que fazia, fazia-o a pensar no seu poder. Pobre formiga.