quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Bicho da seda

Os bichos da seda. Comem folhas de amoreira. Têm pouco tempo de vida enquanto tal. Têm o seu projecto. O seu casulo. O seu percurso próprio de interioridade. Isso é lá com eles. Não precisam de se comparar com os outros moluscos e ainda assim chegam a voar enquanto borboletas. Transfiguram-se. Como é que um bicho da seda se poderia comparar com um caracol? Imagine-se que o bicho da seda tinha inveja do caracol por não ser escolhido enquanto petisco numa qualquer esplanada no verão. Ora, esqueceu-se que o caracol não produz seda e ele sim. Que o bicho da seda, depois de responder positivamente à sua vocação, voa.


Comparar-se com alguém é ser-se injusto consigo mesmo. É não ter respeito por si. Ter o síndrome da comparação é não assumir o que se é. É ter medo do fracasso.  Não assumindo o que se é não se existe. Sobrevive-se. Não se dignifica. Comparar-se com alguém é rejeitar o seu projecto. É não ter coragem de fazer o percurso pelo seu próprio pé. É falta de confiança. De amor próprio. O bichinho da comparação corrói por dentro. Leva à frustração. Porque nos projecta para uma realidade que não é a nossa. Nem pode ser. É uma espécie de inveja. É viver alienado de si. O viver da aparência nasce da comparação. Não se é, mas tenta-se parecer que é, para estar ao nível com aquilo a que se compara.


«A razão mais sublime da dignidade humana consiste na sua vocação à comunhão com Deus. Desde o começo da sua existência, o homem é convidado a dialogar com Deus: pois se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele, e por amor, constantemente conservado: nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e não se entregar ao seu Criador». Vaticano II “Gaudium et Spes”

Outra coisa é a observação. Observar e tirar proveito da vista. Não ficar fechado no nosso casulo por se querer existir. Assim cada um de nós, apesar de todos rastejarmos poderemos voar também. Basta desenvolvermos a nossa missão. Que o ser humano, depois de responder positivamente à sua vocação, voa. Sermos bichos da seda.

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