quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A tentação

Doce tentação! Esperta. Aparece-nos doce, propícia, "agradável à vista e saborosa no paladar" (Génesis 3 1-6). Pecado. Lança-nos para a frente, revestida da sua forca, que esconde por detrás desta, a podridão da mentira. Por ser tão astuta, chega-nos a convencer que é ela, a verdade verdadinha do nosso coração. Encanta-nos. Promete-nos mundos e fundos ainda que não tenha boca para falar. Aparência de bem. Senti-la não tem perigo! Consenti-la é abrirmos as portas ao engano, de nós e dos outros!

Tomar uma opção ou partido de uma atitude em relação a algo, só porque fugimos de uma dada dificuldade, tem os dias contados até à nossa vertiginosa queda. Por ter sido o voo tão alto, por nos saber tão bem em apetite, a tão aparente real leveza que íamos sentido enquanto nos distanciávamos, naquele "maravilhoso" voar!

A tentação é um músculo robusto. Com uma marreta não a deitamos a baixo. A tentação é um músculo robusto, balofo, mas basta um alfinete e ela, puf! Não tem por isso no duelo a última palavra! Não tem, por ser egoísta e exigir de nós um culto total, para que possa subsistir em auto-suficiência. Sentimo-nos auto-suficientes. Protege-nos do confronto, mas tira-nos vida. Acabamos por não deixá-la sobreviver, porque esta nos desgasta, porque a tentação mora na cabeça e não no coração. Faz-nos correr correr correr. E até gosto nos dá. Faz-nos requerer mais e mais razões para que possamos rescindir o pacto com ela. Prende-nos o querer. Desafia-nos em mais e mais razões para a adesão total do que nos é do dentro. Do coração. Distrai-nos constantemente, adia-nos constantemente, por querer ser rainha e dona de nós. Tira-nos vida. "De uma forma ou de outra há-de haver uma hora em que da vontade de parar."

Percebemos que não é a correr que se chega onde se quer mas sim com a serenidade de quem mergulha no Encontro, adere por e pela fé, e não, pela razão. Confiando-se ao Amor. As razões são periféricas ao Encontro. Quando se experiência o verdadeiro Encontro, lembramo-nos nós por ventura das tantas encruzilhadas que rolam cá dentro?? Nada!

As razões podem clarificar-nos as hipóteses, as susceptibilidades. Mas não são elas que nos dão a vida. Quem dá a vida é o Encontro. O próprio Deus afinal. Nós, mais como Ele. Cai a máscara, no fundo é Ele quem queremos. Não o queremos ofender. Queremo-Lo a Ele por inteiro no centro, e não nós. Esta é a parábola da vida.

Sem comentários:

Enviar um comentário